24 de setembro de 2009

eu daria um titulo grosseiro. eu nao daria bom dia. eu choraria e depois destruiria meu quarto. eu abandonaria tudo. acho que estou te entendendo. sim, foi o que voce sempre quis dizer e eu nunca entedi. mas agora eu vejo, nao há mistério. é o corpo, a vontade e o espirito. o sorriso que sempre nos resta quando temos vida. a musica que nao pára, que na larga, que é bonita sim, tão bonita, e eu nao ouvi!
eu nao ouvi!
nao ouço. sei que está aqui, sei que está tocando. sei suas notas, suas voltas, tudo sei. e nao ouço.
sinto falta de nem sei o quê; que eu perdi, e perco a cada minuto que passo assim. despediço muito mais que o tempo. nao acha?

12 de setembro de 2009

reverso

Você entende, eu sei. Pintei as unhas e escrevo à lápis sobre areia seca e cascas de arvore. Ficou tudo sujo, assim, borrado. Você sabe. Eu sei. Foi reverso, ao contrario. Minha bexiga encheu enquanto eu urinava. Não pude controlar. E agora isso. O esmalte molhado e a areia seca a grudar resistências sobre o meu fazer atrapalhado da vida. Faz tempo. Que não faço algo de que eu possa me orgulhar. Sim sim, é inicio do fim da alma. O inicio do anulamento dela, do querer dela, do pulsar. Essas coisas que acontecem quando chove no verão. E de repente temos frio pois o corpo queimou demais no sol do belo dia que se foi. Se foi. Foi-se. Lá está! Você vê? Ali sobre o mar parado. Se afastando. E aqui uma dor sem fim nem inicio. Quando foi? Que começou? Tudo isso?
Querer apagar-se. Do mundo. Indefeso de mim. Estou aqui para destruir-te, mundo. Sou sua filha ruína. Você sabe. Eu sei. E por isso nos olhamos desse jeito, meio amargo. Reconhecemo-nos logo no nascimento. Sua doença, meu principio; um refluxo do ventre fêmea. Fluxo reverso. Embotei-me ao fazer o mesmo a ti. Tenho você em minhas mãos, prontas para esmagá-lo. Ignorar tua beleza. Para mim é futilidade. Agora, antes não. Apenas agora. Antes era bom. Era claro. Eu sabia, você sabia, o saber do bom agrado ao coração amparado justamente por essa futilidade que agora desprezo.
Não me culpo. Não há espaço para isso. Sou seca. Infértil agora. Não antes. Agora, apenas. Meus dedos gotejam o sangue de seu estrangulamento. O esmalte vermelho da representação de nossos fins amarrados. Enlaçados um ao outro. Gêmeos. Cansados. Eu pari imagens que hoje se dissolvem na maresia triste de Copacabana. Não sou capaz de capturá-las. Deixo escapar. Eu deixo. Elas se vão.