28 de setembro de 2010

Queria escrever uma historia sobre um menino, um homem como um menino, como também um dragão, um assassino, um desconhecido. Mais especificamente sobre as pernas desse menino, e mais especificamente ainda – sobre seus joelhos. A fraqueza dos joelhos de um homem. Queria fazer isso de uma forma bonita, leve. Esse menino andaria muito, por sua vida inteira, e eu poderia ver linhas finas douradas por onde ele passasse. Caminhando pelas ruas da nossa cidade. Caminhando por um campo verde ou queimado, debaixo de uma lua cheia, ou no meio do breu na lua nova, ou sob o sol de um verão desesperador. E sob este sol, ele estaria suando, e sua pele deixaria aquele cheiro no ar. E também o corpo deixaria sua gotas, e pelas costas – a maior de todas as superfícies do mundo – pela pele das costas, emanando junto com o cheiro e com a água: uma presença masculina molhada, quase sexual, fertilizante. Mas só eu saberia que o homem tenderia sempre ao chão. Não como tendem as outras pessoas, não como tende tudo que está acima do chão. Mais especificamente, o homem tenderia ao chão de uma forma só dele, e que só eu saberia.
Nos joelhos, finos e sensíveis
Dentro dos joelhos finos e sensíveis, os músculos e ossos desse homem teria sua dor cantada por um ranger não sonoro. E também os tornozelos.

20 de setembro de 2010

indo pro saco

7 de setembro de 2010

moeda no chão de cimento molhado de agua suja de privada

De ter partes delicadas, intocadas, às vezes frágeis. Sentir frio, na nuca e nos braços. Que ele não se lembra. Possíveis espasmos de dor interna.
O passado ficou tão longe que só a essa hora da manha me visita com imagens: mãos frias e o rosto de quem nunca esteve lá.
As memórias se perdem num redemoinho de presentes imensuravelmente grandes e confusos. Tanto que são quase nada. Um chiado profundo, os meus erros de grafia, uma ou outra cicatriz, sendo a maior parte interna.
São Paulo e as máscaras que foram comidas por bichos.
Uma lagoa cheia de fadas sub aquáticas.
Um pouco de pol.
Mas principalmente
Imensidão e embriaguez. Caos.
Cheiro de perfume desconhecido, que não se quer conhecer, mas se conhece.
Tentar recuperar – o banho quente – no qual um dia eu estive – quando não havia de quem gostar ou a quem querer ou odiar – nem ninguém a quem buscar – nem o quê.
Tipo uma felicidade guardada numa caixa – coisas do passado que não se ajustam mais ao corpo. Sou outro. Eles são outros. O mundo é outro. E onde estivemos esse tempo todo?
Onde estamos? Que realidade deformada, torpe! Bruta! É bruta!>
Pessoas dinossauros já são o suficiente para me deixar em pânico, mas elas vem em bando, e cada uma mais feia que a outra, e para mim isto já está de bom tamanho para a estranheza que sou capaz de suportar.
Mesmo as folhas que caem deixando o tempo passar, ou os hábitos que se desvanecem, as pessoas que se desfazem em palavrões e cuspidelas, a minha própria poética sem sentido e não muito bonita ou a pessoa seca que vem hoje a ser aquela que me alimentava mais intimamente.
Tudo se vai. Se transforma. Tipo decomposição de matéria. Desaparece.
E não há para onde voltar. O único caminho é para frente, ou, se realmente quisermos, para baixo...