Queria escrever uma historia sobre um menino, um homem como um menino, como também um dragão, um assassino, um desconhecido. Mais especificamente sobre as pernas desse menino, e mais especificamente ainda – sobre seus joelhos. A fraqueza dos joelhos de um homem. Queria fazer isso de uma forma bonita, leve. Esse menino andaria muito, por sua vida inteira, e eu poderia ver linhas finas douradas por onde ele passasse. Caminhando pelas ruas da nossa cidade. Caminhando por um campo verde ou queimado, debaixo de uma lua cheia, ou no meio do breu na lua nova, ou sob o sol de um verão desesperador. E sob este sol, ele estaria suando, e sua pele deixaria aquele cheiro no ar. E também o corpo deixaria sua gotas, e pelas costas – a maior de todas as superfícies do mundo – pela pele das costas, emanando junto com o cheiro e com a água: uma presença masculina molhada, quase sexual, fertilizante. Mas só eu saberia que o homem tenderia sempre ao chão. Não como tendem as outras pessoas, não como tende tudo que está acima do chão. Mais especificamente, o homem tenderia ao chão de uma forma só dele, e que só eu saberia.
Nos joelhos, finos e sensíveis
Dentro dos joelhos finos e sensíveis, os músculos e ossos desse homem teria sua dor cantada por um ranger não sonoro. E também os tornozelos.
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