24 de junho de 2009

16 de junho de 2009

*****---------------------------*****foda-se

Me vê, do outro lado da sala. Uso jeans e blusa branca. Descalça. Me olha. Eu olho de volta. Usa jeans e blusa branca. Botas e pêlos para esconder seus anseios. Eu sei. Te olho do outro lado da sala. Esqueci da cronologia. O tempo pára. Os dias param. Fisionomias misturadas. Vozes coro estilhaçam por aí. Assalto ao peito: uma faca! Duas facas! Três facas!
Não, não moço. Esse foi minha mãe que me deu. Me devolve! Eu não vou te dar. Toma aqui outra coisa. Dez reais, toma aqui minha cerveja, meu cigarro. Toma aqui o meu amigo, meu gato. Eu moro ali. Quer levar minha televisão, microondas e som? Leva a minha casa, desgraçado, mas esse aqui não. Esse aqui, moço, esse foi minha mãe quem me deu.
Você sentado do outra lado da sala, enfiou a mão no bolso, cheia dos meus não me toques. Arrancou fibras de osso para me dar de troco. Eu não quero não, seu moço. Eu quero isso aí que você tirou do meu pescoço. Depois você veio com um consolo, que enfiou-me goela abaixo, língua abaixo, até o estômago! Um impostor de recados, de telegramas, de dia e hora, que ignora e se queixa. Um relógio, livro, pingüim de geladeira, alguma coisa mecânica, programada, cínica.
Eu gritei quando você saiu andando e bateu a porta por trás. Eu gritei e você não me ouviu porque estava usando fones de ouvido. E o meu coração palpitando, esmagado no seu bolso, escorrendo, suando. Morrendo lá dentro.
Eu, sentada, do outro lado da sala, usava jeans e blusa branca, e só. Te vi sair e só. Gritei, só. Sorri. Chorei. Fiz o que me foi possível. Minha mão agarrou na garganta e depois escorreu pro peito. Esse eu não quero. Esse eu não quero. E a coisa lá dentro respondia silencio fétido, que eu já conhecia, e que nem um pouco queria.
Esse aqui, moço, eu não quero não.

15 de junho de 2009

De; Para


De quem que fazer dormir-se por uma eternidade, e toma café as três horas da manha para ver se passa a ressaca. Escreveu ultimo bilhete em carta de copas que havia perdido da Paciência que jogava, às noites, de três anos.

De quem ainda não quer abrir, não quer abrir, não quer abrir os olhos – ou qualquer outra parte do corpo.

De quem tem medo do contágio e da regressão. De quem não mais tem medo de solidão ou de medo, mar, escuro, barco e elevador.

De quem não sabe mais contar histórias. Não sabe cozinhar. Não alegra. De quem sorri e boceja. De quem aprendeu há pouco a invejar.

Por quem não sabe onde está e o que faz, ou se quer se ainda existe. Por quem deixa sombra e lama e rastro. Por quem se pode seguir o cheiro, que reconhece o cheiro e o ama e o lambe e se esfrega no cheiro.

Por quem não perdeu nunca qualquer dignidade, pois não acredita que uma coisa estranha dessas possa existir. Que perdeu a vontade, apenas, vontades, e que não se importa. Que não dá a mínima. Que fechou os olhos e sentiu zeloso o sexo do outro que já morreu e agora é necrófilo este/ esta / isto necrófilo.

Para quem nem suspeita. Para quem dorme e é branco. Para quem é do passado e lá mora em paz. que não quer sair de casa. De quem tem medo da rua, de gente, de sebo e saliva. Perdeu o gosto. A descoberta já foi feita. Eu sei o que mais. Eu sei o que mais. Eu sei o que mais me espera.

11 de junho de 2009

Vai fazer sol hoje. As nuvens se separaram no céu, deixando o céu azul passar.
Numa mesa à beira mar, Ana quer saber onde está.
Um súbito amanhecer. Mas na noite durará; pois pensará nas viúvas e no mundo que gira e que faz tudo mudar.
Existe uma pessoa que usa um casaco de pele de cabrito, que fala o que não sabe e que é feliz, vivendo ali, na beira da praia. Existe uma outra que gosta de contar piadas. O que vende e o que compra. Alucino. Onda vem e vai. Não ligo para mais para areia em meus sapatos, casacos, calças,ouvidos e cabelos. Estou só. O espaço entre as nuvens, e as nuvens elas próprias, e todo o resto, me fez pensar que algo caminha enquanto eu estou dormindo. Ana, dormindo relaxada? Ana, que dormiu, finalmente?
Seus ursinhos foram para o lixo. Há tão pouco tempo.

8 de junho de 2009