16 de junho de 2012

Sábado, dia 16 de junho de 2012


Pelas costas do homem, eu, de braços enlaçados no seu corpo bruto , pensava em não sei o quê. No final do abraço percebi que até então não tinha percebido o que me acontecia. Estou abraçando meu pai. Este, meu pai, homem feito que reclama da idade de 53 anos. Universitário. Cansado. Semi-vegetariano. Há dois meses não o via. Hoje trouxe suas olheiras para o almoço. Disse muitas vezes que minha estranheza com o mundo é uma constância juvenil por toda historia da humanidade. Ele mesmo se estranha de não mais estranhar. De alguma forma a juventude começa sendo, e nunca termina de ser, a principal referencia de uma vida.
Eu, abraçada no homem, pensando em não sei o quê. Pouco antes havia tido a mesma epifania.  Fumávamos o cigarro digestivo, tomávamos o café digestivo. Levávamos assuntos pesados para o momento da digestão. Ele me contava sobre seu ultimo êxito estudantil na academia. Percebi que era ele.  Percebi que este vivia, que era ele e sempre havia sido. As mesmas mãos, a mesma pele. Por 53 anos viveu e agora conta historias como se fosse a primeira vez. Ele brilha na insegurança de uma vida já pela metade que vibra como os inícios. É sempre um inicio. É sempre o que dá. Estamos aí. Estamos tentando.
Com ele nunca percebo que não há muito a ser dito. Ele não me encerra a ansiedade. Vejo-o. De alguma maneira creio que ele, apesar de estar sempre aos tropeços, sabe algo de misterioso sobre a vida. Ele não está em paz, não tem muitas esperanças e muitas vezes fala muito mais do que sabe sobre as especificidades dos casos científicos. Ele é tão comum que é estranho que não tenha se extinguido, dissolvido na massa de pessoas do cotidiano. Ele é tão comum que não sei como vive. E por isso me intriga. Que viva, que tenha vivido por 53 anos, que ainda tropece e ainda mais, que ainda ande e nunca tenha parado de andar.
Eu nasci de um ser comum que se chama Pedro Henrique. Um homem marrom, com olheiras, meu pai. Meu e de meu irmão.