Para escrever preciso de distancia. Como não sei onde estou não
sei me distanciar. Juro que não sou infeliz, e que há muito não sofro como
sofria. Também parece que meus ombros vem se levantando como as montanhas que
crescem sobre as rangeduras das plataas tactonicas terrestres.
Minhas palavras estavam velhas. E agora, quais são essas? São
minhas? De que isso importa?
Muitas coisas me emocionam, eu inclusive choro. Acho isso um
sinal de presença, algo bom para me orgulhar. Eu atriz, eu pessoa, eu fazendo
algo se mover e me permitindo ser movida.
Descobri que existe um ponto no caminho entre eu e eu mesma
que me incomoda profundamente. Na verdade, são trechos. De longe sou feia. E neste
trecho, quanto mais chego perto sou mais feia. Depois deixo de ser feia. Fico familar.
Como aquela pessoa que não sabemos – e que não nos perguntamos mais – como é. Este trecho é agradável. Mais a frente consegui ver melhor meus olhos. Lembrei-me
de tudo que já falaram sobre meus olhos e lembro-me também muito bem dos olhos
dos outros que já olharam os meus. Os olhos da minha mãe, os olhos do meu pai,
os olhos dos outros. São profundos em si
e são profundos no rosto – ficam nos vales da face, quase somem. E de muito perto, encostando testa na testa, o
desconforto cresce. Eu sou meu pior namorado. Não aguento meus devaneios, drs e
impotencias.
Depois de tanto tempo sem escrever eu ainda me pergunto
porque eu tenho sempre de falar de mim. De
mim para mim, nessa perseguição.