Os olhos das coisas olham pra mim
eu tenho
agonia dessa troca de olhares
Faz tempo que busco lugares úmidos e encontro
lugares áridos
Minha alma tem afinidade com a água, o musgo e a lesma
Vem-me
sempre pessoas com pratos rasos e secos
Lambo-os em busca d'água
Minha saliva os
hidrata
Depois o sol os seca e eles vão embora
Minha língua guarda a memória do
atrito
Tenho sede mas já não ligo
Nessas casas que tenho morado há sempre um pó
escuro pelo chão
Foligem das ruas
pele de gente que anda sob o sol
uma lesma sob
o sal já viram?
água escorrendo pro ralo
de um piso frio na varanda de alguém
na
região dos lagos
Há um diagrama interno
Poeira se junta ao sol e ao calor Se
junta ao barulhos, apitos, motocicletas Se junta ao enjoo, ao susto, ao cansaço
Se junta ao deserto, à solidão, ao caminho escasso
Riacho se junta ao salgueiro,
que se junta à pedra, ao musgo, a lesma, a noite, a lua, a vagina, ao sonho, às
cores, à alegria, ao mistério, aos vagalumes, a escrita, a arte, a beleza, a
minha beleza, a minha lesma, a minha vagina, a minha pele, a minha vida fresca,
a selvagem vontade de multiplicar-me, à excitação pelo úmido secreto da vida
são
opostos os lados do diagrama
Vivo no lado que nao gosto em busca do seu oposto
Enquantao não acho, me confundo com qualquer coisa
A confusão ficou grande
demais, preciso ir na essencialidade para livrar-me dela
Menos tempo de tela
Menos tempo de fora
Menos tempo
Mais espaço
Mais espaço do lado de dentro
Mais
dentro na paisagem do espaço
Mais umidade para o caminhos dos pés
Mais pés para
molharem-se no riacho
Mais riacho para as pedras
Mais pedras para contarem-me
segredos
Mais segredos para contarem-me caminhos
Escrevo, escrevo, e nunca passo