19 de agosto de 2006
Ode a Ginsberg- o velho esfarrapado.
Cruzes! De madeira e de metal. Sofrem a oxidação do tempo mas nunca morrem, nunca. Fincadas na sua calçada, em frente a sua casa, recebendo o bom dia dos porteiros Josés e das Donas Marias que tem ascendência africana e carregam seus cantos de dor dentro de suas carteiras vazias. Perdão. Perdão, meus senhores, pelas cruzes e pelo sangue de seus filhos legítimos. Aqueles que não sofreram a inquisição, mas que a temem, ainda que protegidos por seda e pérolas.
Ornamentos de concreto é o que nos resta. A claridade ainda há e mostrar-nos nossa atrocidade cotidiana. De que é que reclamamos? Aonde enterramos nossos lamentos? Pelos olhos de quem escorrem as lagrimas que eu poupo?
Em um circo colorido expomos nossa arte. Dentre a fumaça encoberta pela lona, lá estamos nós, infelizes, corruptos, cheios de demônios vorazes da imperfeição e da castidade a deus. Falemos em teses de mestrado do jovem prodígio americano. Olhos azuis e barba mal feita não é o suficiente para redimir o mundo dele mesmo. Um belo sorriso não acalenta nossos pesares. Trinta casacos não curam as costas lanhadas. Oh, que os santos não se enfureçam com as nossa tolices. Pobres de mim e de você, meu amor, que eu não queria ver sofrer.
Pobres de todos nós, lunáticos, demônios do mundo sublunar que nunca, nunca vamos entender nem a metade do que somos e do que dizemos.
"Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose de qualquer coisa... que esfinge de cimento e alumínio arrombou seus crânios e devorou seus cérebros e imaginação? Que penetrou cedo demais em nossas almas. Que nos fez consciência sem corpo..."
nas paredes desse anarquismo distorcido e encoberto, erguemos também nossos túmulos. Quem irá nos visitar e dar-nos margaridas dos campos floridos da Escócia?
Ode à Ginberg, o sujeito esfarrapado e velho, que embora tenha passado sua vida procurando, nunca conseguiu encontrar qualquer paz. Ode a todos nós, estudiosos arrogantes. Ode, ode ao passarinho negro e a seu canto místico que fez adivinhada a nossa insensatez e a nossa luxuria.
14 de agosto de 2006
5 Estrelas Apagadas
Poesia concreta é para os fracos. Pra essa gente que não sabe o que faz e não tem jeito melhor de viver.
Eu fiz 25 hoje e ainda tenho fome. Se ao menos me restasse o puritanismo... Mas nem a navalha mais desdobra em mim qualquer sentido.
O mundo inteiro se enche de si mesmo e eu aqui com a minha palidez ridícula. Se ao menos me restassem os corvos...
O mar poderia estar em alvoroço que nem assim eu temeria a morte. Se ainda me restasse o rum...
E enquanto essa ausência toda me estanca, o passo inconstante prossegue no chão. Se ainda me restasse o giz... E uma cegueira de gente pobre e feliz... Se ainda ficassem rabiscos, se o papel estivesse rasgado, se o céu inteiro chorasse...
Enquanto a pele seca se estica nos meus joelhos, ele deseja mesmo era estar ralado. Se ainda me restasse o concreto áspero...
Eu deprimiria um palhaço!
O faria chorar todos os risos e ainda assim sairia intacta.
Tem jeito de ser mais nada? Tem jeito de ser mais nula?
Se ainda me restassem os circos...