15 de dezembro de 2006

Hey You

Sabe você, às vezes a gente não tem muito o que dizer. Eu chamo isso de pensamento rápido: as idéias são tão ligeiras que passar pela cabeça e não deixam nenhuma palavra que possa ser usada na descrição delas. Mas não acredite nisso. Foi só uma desculpa que eu inventei para mim mesmo para não me sentir mal sobre a minha mente lerda e queimada pelos muitos tragos de cigarro e bebidas fortes que se assemelham àquela água que sai dos sacos de lixo preto das encostas das ruas dos grandes centros.

Então, sem as palavras, ficam só os tropeços de uma vida falha. E o sangue derramado no asfalto, e moscas presas na garganta, e uma dor... uma dor muito grande no peito. Enfisemas. Enfisemas doloridos, causados por mais nada além dos tropeços anteriores. Chato pensar que não dá pra ser diferente. Que atrás desse grande muro de concreto, que todos da minha juventude tentam escalar ou explodir, não há nada além de uma continuação espelhada de tudo que já existe aqui, e as pessoas que lá andam são nós mesmos poucos anos mais velhos.

Perdemos a inocência quando olhamos o horizonte e vemos não mais a Deus, mas um mar de óleo borbulhante. Perdemos a razão quando podemos sentir esse óleo queimando nossos pés e nossas peles sendo desfeitas. Perdemos o coração quando não mais sofremos por isso. Mas perdemos a nós mesmos quando sofremos, sentimos e vemos isso tudo. Fazer o que? A loucura paira aqui, não a ignorarei. É um preço que se tem a pagar pela verdade: nossos próprios corpos.

Iluminados são aqueles que conseguem, mesmo engolindo toda a podridão que essa loucura evidencia, apenas ser. Eu não consigo. Então eu fico mudo.

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