4 de janeiro de 2007

sistema nervoso central

“Posto de gasolina que brilha no fim da estrada em contraste com o céu negro azulado, banhado pela brisa fresca da noite sem dono da grande cidade bolha em que você está agora. Corra. Cigarro queimado até o filtro com cheiro de revolver recém disparado com lama de pólvora nos pés e tênis mal amarrado. Corra. Gasolina desperdiçada nos tanques dos carros que não vão a lugar nenhum que não aos seus próprios corações despedaçados. Amigos de mentira que servem para te falarem sobre as possibilidades falsas do próximo ano imutável. Corra. Balas de leite grudadas no ultimo dente, estomago fermentado e mãos fedidas enfiadas nos bolsos cheios de nada. Folha viva que cai do topo da arvore enegrecida pela fuligem que arde bem nas suas narinas. Corra. Ardor de peito, de mente. Corte profundo na palma da sua mão e então um destino incerto. Crucificação globalizada e ritmada a cada dia. Corra. Banheiros públicos tem cheiro da alma humana. Corra. Asfalto quente, sol a pino, maresia e ferrugem numa praia cheia de corujas cegas que voam desesperadamente para o horizonte de seus sonhos. Corra.”

Era assim que ele pensava enquanto dava seus passos lentos em direção a escola cinzenta as sete da manha de qualquer dia da semana. Estava frio o suficiente para usar casacos. Ele adora casacos. São entes quentes em um lugar de mãos e olhos frios. Nem Ana poderia aquecê-lo agora, mas os casacos eram bons.

Naquela parte da rua o sol era sempre poente, mesmo quando nascia.

-“corra”- ele pensava.- “corra, já”

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