13 de maio de 2007

O Resto da minha Vida

Ela deve deixar a casa; ela vai se sentir sozinha.

Deve pegar essa estrada longa, e os passarinhos a vão seguir pra sempre. Ela tem medo. Ela tem muitas vozes dentro de si. Ela logo vai cansar. Logo ela vai aprender a perdoar a morte, a solidão e a preguiça. Logo ela vai se libertar do ócio. O céu a vai acompanhar sempre. Ela vai se deitar em qualquer lugar, debaixo das nuvens brancas e do sol fraco. Ela vai se unir aos forasteiros com violas e tabaco e vai ensiná-los a amar. Vai receber agrados dos ventos, vai ser portadora dos segredos das pedras e das arvores milenares. Ela vai comer a terra e as folhas, vai mergulhar no rio claro, vai abraçar águas revoltas.

Ela vai se esquecer de usar talheres, vai comer com as mãos. Vai esquecer os dias, as horas, e todos os vícios do tempo. Ela vai se esquecer do terror, e fazer o mundo nunca mais sentir dor. Ela vai cantar na língua dos lobos. Vai se apaixonar por uma margarida. Vai molhar os pés à noite, sentir o frio nos ossos e por isso rir. Todas as iras serão cócegas. Todas as chuvas serão sagradas. Ela vai florescer.

Ela vai se tornar um deus, todas as coisas, todo o amor.

Ela quer levar você com ela. Quer te cantar uma musica e dormir nos seus braços. Ela quer beijar os seus dedos, olhar nos seus olhos, cheiras seu cabelo.

Ela deve deixar a casa. Ela deve andar por uma estrada. Ela quer te dar a mão.