13 de julho de 2007

SORRIA!! =)

Eu queria uma boa imagem pra descrever a beirada do mundo, mas eu não a tenho. Digo, eu tenho muitas imagens, mas nenhuma para a beirada do mundo. Eu diria que lá o vento sopra forte e a areia de algum deserto entra nos olhos e na boca, deixando tudo seco e ferido. Mas não é assim, eu não posso mentir. Gostaria muito que fosse, mas não é. Eu diria também que lá não há nada; que há cegueira, breu, frio e apatia: a ausência. Mas também não estaria certo.

Quem será que já foi a beirada do mundo? Gostaria de olhar em tais olhos... são esses olhos também uma beirada deles mesmos. Como os meus? Como os meus, talvez, que são uma beirada do nada. Existe também a pergunta: se não há nada, como pode haver beira?! Certas coisas entendemos apenas com os olhos bem fechados.

Era um pesadelo, e você acordou de sobressalto no meio da noite. Nele, você andava com os pés descalços sobre um monte de folhas secas. E o que há de assustador?! O medo não se via, no entanto você sabia que por debaixo daquelas folhas uma dor espreitava sedenta pela carne fria de seus pés e isso o fazia não conseguir respirar. Era um longo caminho...

Então você acordou e tudo parecia limpo e sólido, perfeitamente real e quadrado. Mas o que havia por trás daquele ar?! Um grande suspiro. Um suspiro que duraria uma eternidade de tão intenso que era. Como uma mensagem enviada pelos ventos através dos tempos e das terras, algo forte, como o tambor dos índios, algo que, sei lá, que irremediavelmente estaria lá.

O pulmão ainda assim não conseguia respirar e o coração pesava como o de um jovem homem condenado à morte.

E então você acordou de sobressalto, todo estirado em cima daquela cama dura. Fazia calor e o ventilador de teto, com seu funcionamento miserável, só espalhava o cheiro de suor que se desprendia da coberta áspera. Um quarto de hotel. Era dia. Você só queria sentir algum amor pelo sol. Ele brilhava, rei lindo e quente naquele lugar de corações frios. Você o amava em algum lugar da sua alma, mas isso não mudava nada. Não era o suficiente. Nunca havia sido. Meu deus, de onde pode vir tanta devassidão?!

Você caminha até a janela se sentindo o maior dos hereges, o maior dos traidores de seus próprios amores. Há um desespero contido que você tenta ignorar mas que, revoltado, queima as suas costas de cima a baixo. Tudo é fogo, não é mesmo?! As lagrimas secaram há tanto tempo. Você não estava mais ligando há tanto tempo.

E lembra dos pesadelos da noite infernal no hotel desconhecido que você queria tanto chamar de casa. E do sexo com as pessoas perfeitas que você queria tanto chamar de amadas. E da vida que você queria tanto chamar de sua. E dos seus olhos... dos seus lindos olhos que você queria tanto chamar de ricos.

Você escreve um poema, com todo a coragem e devoção. Um poema que você queria tanto chamar de feliz.

No decorrer do dia eu posso te assegurar de que você vai constatar pela qüinquagésima vez na sua vida que os momentos não passam de sobressaltos no meio da madrugada e que tudo é um eterno acordar, ou dormir. Tudo é “a copia da copia da copia”. Você só escuta os sussurros e só vê as sombras do mundo que alguns cismam em chamar de real. Você está preso na caverna de Platão, na mente dele. Você queria que Platão estivesse vivo só pra poder esfaqueá-lo inúmeras vezes até ele falar enfim como se sai da caverna.

Maldito.

Platão', que nome estúpido.

Um comentário:

Renata disse...

O texto todo é ótimo .. mas o final.
Putz .. perfeito.

Amei, soh pra variar , claro!

Beijooss
^^