23 de maio de 2008

Eu tinha muitas idéias na cabeça, muitos papéis na gaveta e tinta de sobra. Sei lá. A expressão muitas vezes é interrompida por outras ondas. Como uma interferência. Interferência. Esse deveria ser o nome dessa cena da minha vida, se eu tivesse que explicá-la a alguém, se eu tivesse que fazer alguém entender a fundo o que eu digo, agora mesmo. Vida dupla. Tripla. É mais do que uma inconstância.

Numa analogia sistêmica: 10 atores treinando parceria, se movimentando em resposta uns aos outros, em uma sala vazia, num sábado à tarde, sem nenhuma finalidade definida, sem nenhum diretor olhando. E eles todos de olhos fechados.

Se eu pudesse eleger um cavalo pra minha vida, eu elegeria o da comunicação subjetiva, mesmo sem saber como domá-lo e mesmo sabendo que cedo ou tarde ele vai me derrubar.

Um dia meu pai me disse: os sentimentos são cavalos, que levam a gente pra lugares distantes e nos dão a divina possibilidade de deslocamento. Mas esses cavalos são cegos e não se entendem, vão um pra cada lado, de forma que acabam não saindo do lugar, são amarrados uns nos outros. Por isso, querida, temos de ter um ser sobre esses cavalos, um ser que possa domá-los e fazer com que vão para o mesmo lado, na mesma marcha, em harmonia. Esse ser é a nossa razão. Ele tem olhos enormes e uma super-consciência, mas não tem pernas e não tem força. Temos de botá-la sentada sobre nossos cavalos, e assim podemos seguir em frente, em paz.

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