7 de outubro de 2008

mestre

Torno a dizer: veja bem, meu senhor, eu não quero acordar.

O homem me pinicava as costas e insistia no meu olhar. Estava ali sei lá por que, mas estava a importunar a minha ordem de estar. Veja bem, seu senhor... não queria chamá-lo assim. Era um homem velho e barbudo. Nojento como todos os homens. E me importunava um momento importante. Mas não podia chama-lo de outra forma. Meu senhor, respeitoso homem, fiel e errante nos passos esperançosos. Por que ainda estas aqui? Por que me acordas?

E sem dar brechas para resposta qualquer, me meti no silencio daquele espaço para que não mais nenhum estranho se pusesse a dizer coisas das quais eu desconhecia. Fui-me logo nas explicações: veja bem, senhor. Estive aqui há tantos anos. Essas pedras e eu e nada mais. Abandonei minha aspiração a ser um de vocês em algum caminho, que por fim, aqui me trouxe. Já agora, velha assim, não quero voltar. Não adianta o senhor a insistir. O que faz é atrapalhar minha paz. Veja bem, meu senhor, eu só quero dormir! Se achas que tenho tipo de quem precisa de ajuda ou que aqui estou e não lá apenas para que o senhor venha me resgatar, estás enganado meu senhor. Pois a única coisa que preciso é de sono. Eu e minhas pedras, eu e elas, já encontramos, pois, a nossa paz. Não me venha trazer nenhum presente, ou a preocupação doce do seu olhar. Por favor, me deixe estar. Vá e não volte, e não conte a ninguém que aqui estou. Pensarão que guardo um segredo, e me invejarão por ser tão descomprometida. Não conte, e se vá. Não tenho nada a dar-te que não a minha suplica pela solidão. Veja bem, meu senhor, meu bom senhor, eu não quero acordar.
Ele silenciou. Escutou-me astuto e baixou os olhos. Minhas mãos secas descansavam sobre a areia e as dele vieram ao encontro delas. Tomou-as nas suas. E como se nada pudesse falar o que queria dizer, como se ali as palavras não mais servissem, jogou o corpo ao chão, lado ao meu, e ali ficou. Dormimos os dois, intercalando inspirações e expirações. Adormecidos nos fomos pelas terras do sono, onde até hoje estamos, eu, ele, e nossas pedras

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