28 de outubro de 2010

porco

Eu estou procurando qualquer coisa que me leve de mim até você. Vocês podem me ajudar? A suicidar a distancia. A suicidar o ruído. A me transformar num espelho.


Eu vim até aqui para promover um suicídio. Para contar a historia de um homem que vai morrer tentando chegar nessa ilha, no caminho. Morrer aqui. eu queria que vocês vissem esse corpo do homem. Queria poder mostrar os fenômenos que aconteceram dentro dele durante sua busca.

Queria que vocês me vissem, para ver o homem. Preciso que vocês olhem pra mim.

Eu posso tirar a roupa para vocês poderem em ver melhor. Vou dizer que aqui tem pele, vocês podem ver. Pés, tornozelos, canela, coxas, sexo, barriga. E o que tem por debaixo da pele: memória, machucado, respiração, coração, enjoo, medo.

Tem o que não está aqui = o mar atrás da parede, as ruas que vocês andaram, sete bilhões de pessoas existindo agora no mundo. Os portões do teatro, as coxias, a cabine de luz, o palco, todos nós e o silencio.................

Tenho vontade de abrir aqui o meio do peito para mostrar o que tem por debaixo da pele. Para promover o nosso encontro, que é onde o homem morre. Aqui. Tentando chegar até você.

Eu estou procurando qualquer coisa que me leve de mim até você. Vocês podem me ajudar? A suicidar a distancia. A suicidar o ruído. A me transformar num espelho.

Ele levanta da cadeira, vendando. Ele caminha pelo corredor da sala até a escada. Ele sobre as escadas. Ele caminha até mim. Ele olha de volta.

21 de outubro de 2010

17 de outubro de 2010

A estima completa por uma pessoa define. Qualquer tipo, é assim que se define. Quando nada naquela pessoa lhe é indiferente, em nenhum dos setores de acontecimento e estado. Quando se conhece ou cabe em ti as partes todas daquele. Enganam-se quando pensam que é bom. é tudo, e em si se alimenta, só podendo então ser tudo em sua extrema potência, gerando o colapso de dois mundos interiores. Ele está no entre de dois corpos que tendem a se fundir pelos opostos. É catástrofe. Memória apaixonada, cuspida por todas as veias, os extremos do grotesco e do belo ali. Impregnação dos sentidos. Invasão das camadas mais baixas da consciência, apreensão expropriada, todos os opostos listados em anos de poesia romântica. devem ter sido queimadas,pela falta de coerência, pelo ridículo, pela miséria. por dizer que coisas que matam as pessoas como um raio.

é como a sensação mais forte do mundo perdida, no espaço de dentro da barriga e pelo ar envolta e em tudo, uma coisa que fica no esquecimento dos outros. um delírio, pane na regulagem dos humores, uma lógica maior regendo seus órgãos. é uma dança que a música só pode ser ouvida por uma única pessoa, ou por duas.

E dançando, o corpo esticou-se e contraiu-se diversas vezes, de forma que os músculos apareciam e desapareciam por debaixo da pele, e a respiração era notável. as pupilas enormes por trás dos cabelos caídos em mechas duras de sal e água, suspiravam o ar febril de uns 40 graus. de olhos cegos e peito em carne. Dançava em direção ao abismo, por uma terra seca de barro os pés em fortes fricções contra o piso.

podia ser confundido com o corpo de um ser mitológico, pois urrava silenciosamente as canções de todos os homens da terra e de todos os tempos que já estiveram na mesma cólera e dela morreram. o corpo dançando em direção ao grande abismo.

pois para ele não houve escolha de destino, arrebatado para o outro estado de existência, de forma gradual, até que não pudesse mais falar, ver e compartilhar da lógica dos outros homens. primeiro se encontra alheio, possuindo agora uma alma sem resposta à qualquer estímulo do entorno, parecendo ausente se si, vazio. A comida, a bebida, os prazeres e os outros apresentam-se desprovidos de suas qualidades e, não compreendendo tal fato, o homem se põe em uma busca obstinada por sua reconquista. o mundo abrindo novamente a sua face cínica, uma piada de mal gosto sendo contada em cada esquina. torna-se cerâmica, branca, quebradiça. esquece-se o próprio nome.

quem é? igualmente estou sem nome! não posso olhar a 45 graus acima do horizonte! eu já estive lá, onde você diz que está. eu estive lá. me lembro dessas cores, das roupas que você usa, das caras das pessoas com copos de cerveja na mão e muitas joias. lembro do timbre dessas vozes. Lembro que um dia tive sensações como essas. não são mais minhas. eu me lembro que há algo de dentro de mim que devo ter deixado nesse lugar, perdido. como um pulmão ou o coração!

o marinheiro foi embora pelo mar azul claro e branco. eu fiquei sobre uma porta, de pé sobre ela, no mais aberto dos mares, boiando.

disse: você, meu amigo, para mim é tudo. é único e igual nunca terei. teu cheiro apaixona meu olfato, e sua forma é a única que por meus olhos reconheço. em mim tem uma fortaleza, em mim ergueu seu império, e isso se deu sem que eu tenha qualquer explicação. Neste breve encontro, meu amigo, ganha para ti a minha alma.

e desejando intimamente que aquele encontro não mais acabasse, observou a pequena embarcação sumindo, a 45 graus acima do horizonte.
bien bien mi Michelle parece que vemos muy bien la quema en el infierno tienes esta cosa que me considere su único arte de coger a la gente.

12 de outubro de 2010

Where, oh, where have you been my love?








a boa comida com gosto de grama
o bom feriado de relógio arrastado
a boa cabana muito vazia




9 de outubro de 2010

pra tirar daqui de perto

ir pra longe longe longe

espirrar o mundooooo.
espirar o mundo!
girar,

pra tirar daqui de perto todo esse lixo entulhado.

6 de outubro de 2010

How Can You Be Sure?

5 de outubro de 2010

4 de outubro de 2010

ROMERO PLUTÃO

A triste historia de Romero Plutão.
9
Romero era uma criança estranha porque ele não falava. Os médicos não sabiam o motivo, e os psiquiatras diziam que era apenas uma questão de tempo. Na realidade, o estado sempre distante, calado e sombrio de Romero não atrapalhava qualquer função de sua vida: tinha boas notas, era educado e ajudava nas funções da casa e era amável com seus pais.
A grande questão era que ninguém compreendia esse jeito do menino, e apesar de sua simpatia, era sempre excluído das brincadeiras, importunado pelas crianças do colégio e, notava-se, não era motivo de orgulho para seus pais. 1
No colégio, Romero passava os recreios brincando com bonequinhos de corda, o que não deixava feliz achando todos os brinquedos de corda muito chatos e passageiros. Romero estava entregue a uma vasta solidão entediante. 14
Ele então começou a entender tudo aquilo com grande pesar. As horas de tédio e exclusão, as brincadeiras más dos meninos que o chamavam de E.T, o olhar de desaprovação dos pais, tudo isso fez crescer em Romero uma grande raiva do mundo, e a certeza de que um dia teria que fazê-los engolir todas as suas palavras junto com suas línguas.
Quando o menino tinha 9 anos, seus pais, cansados da espera e da vergonha de ter um filho mudo e esquisito, tomaram uma decisão drástica:
- Romero, você vai ficar de pé sobre este banco até que nos fale qualquer coisa. Mas só vai descer quando ouvirmos a sua voz. Entendeu?
E colocaram o menino sobre um banco de madeira alto no meio da sala de estar.
Horas se passaram. Dias. 11
Na tarde do sétimo dia, seus pais adormecidos no tapete da sala, rodeados por caixas de comida chinesa , acordaram com uma grande berro de seu filho:
- plutããããão.
Satisfeitos, pegaram o menino no colo e o colocaram na cama, dizendo:
Dorme bem meu filho querido, agora você é um menino normal e pode falar o quanto quiser, amanha conversaremos muito.
Mas não foi assim. Romero continuou na sua solidão silenciosa. Ainda mais, ele não havia gostado do trato que seus o deram, o deixando assim sobre o banco por tantos dias. Se sentia profundamente humilhado.
Mais do que nunca, tinha a necessidade de se fazer compreendido e pensava: uma dia eles vão entender, e para isso eu não usarei qualquer palavra.
E então, na noite de seu 12° aniversário, Romero já tinha tudo esquematizado para dar sua vingança ao mundo.
Levantou da cama de madrugada, se certificou de que seus pais estavam adormecidos. Colocou na mochila uma garrafa de álcool, uma garrafa de cerveja vazia, um pavio e um isqueiro. Lacrou todas as janelas e trancou as portas. Ligou o gás e saiu, tancando a porta do lado de fora. 5
Deitado no gramado do quintal da frente, 6 esperou que o gás preenchesse o andar térreo do ambiente, e deitado de barriga para o universo infinito, ficava imaginando onde seria plutão.
Quando achou que estava bom, lançou seu coquetel molotov através da janela da sala, e , mais afastado, viu a ruína de sua família e de sua casa com um grande sorriso nos lábios. 8
Satisfeito, pegou a moto de seu pai – que espertamente havia aprendido a dirigir – e foi se refugiar na antiga fábrica de metralhadoras, onde pensava poder encontra uma dessas armas ainda funcionando.13 E achou.
Na manha seguinte, Romero foi até sua antiga escola e se plantou no plátio central esperando o sinal para o recreio. Mal as crianças chegaram, com suas caras gordas e ensebadas, e o rapaz descarregou todas as balas naqueles pequenos corpos idiotas. 10
Nunca havia experimentado tamanha felicidade. Finalmente ele estava se fazendo compreender.
Agora ele podia voltar para sua verdadeira casa. 15
Foi até os rochedos que dividiam a pequena cidade da grande mar revolto daquela tarde. Lá observando as ondas, ele tirou um corretivo de texto da mochila e escreveu na pedra:
De volta para plutão.
E lá de cima se jogou.
Nunca acharam seu corpo.
E assim termina a incrível historia de Romero Plutão.
Every night and every morn,
Some to misery are born,
Every morn and every night,
Some are born to sweet delight.





Some are born to sweet delight,
Some are born to endless night.