O altar dos bebês abacates está enfeitado com flores secas. Dois
potes de canela se vêem pela primeira vez e se apaixonam. Isso tudo acontece ao
lado esquerdo da minha vista, enquanto eu cozinho ao fogão. Um estranho habito,
como eu me percebo aqui.
O espaço é vibração de estar: freqüência cardíaca e
cerebral.
O tempo não se toca. Me
sinto agora, quase impossível dizer, impossível dizer como. Por um segundo olho
pra mim mesma nos olhos. Vertiginoso, eu olho pro que eu sou. Será que a situação resvala ainda pro mesmo
lado? Os lugares, antigos lugares de vida, desses que quando a gente olha bem sempre está
lá, em algum lugar. Essa pedra de repetição de si, o que sobra, quero
livrar-me.
Aproxima-te de mim , é como caminhar descalça na escuridão. Abrir
o terceiro olho, filha. Tateia esta estrada na qual segue. Os tons diferentes
de preto que se vê no interior das pálpebras. Os cheiros. Escuta com a nuca,
fala com a barriga, abre o peito, se reintegra, abrindo espaço, pedindo licença
pros habitantes etéreos do mundo. Seguirá na força do caminho que vem de dentro
do teu peito, que jorra fazendo estrada à frente, a estrada que se faz no
caminhar. Nada melhor do que a boa e velha presença.
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