9 de julho de 2006

OS BICHOS

Nessa época do ano os patos voam para o sul. Asas, bicos, penas vão com o vento, fogem vívidas da migração terrestre. Pois em terra, vão-se também todos os animais a marchar, tocados pelos outros.

São patas, passos, pés andantes, calos. Todos seguem o rumo.

No caminho não há água, não há comida, não há circo. No caminho não há nada, apenas o caminho e o horizonte. Seco. No caminho não há nada.

Vão-se os bichos tristes pela estrada nessa época do ano. Mas não estão à procura de algo. Apesar de não terem água, comida e nem circo, eles não procuram por nada. Apenas seguem o caminho para o sul. Eles são tocados por outros animais.

-Mas o quê há no sul? – Pergunta o pequeno potrinho ao amigo burro.

O burro para e pensa.

-Mas o que há no sul?- havia perguntado o potrinho.

O burro pensa. Havia anos que migravam todos para o sul naquela época do ano.

-No sul não há nada. Não há água, não há comida e nem circo. Lá existe só terra seca e horizonte ao longe.-Respondeu o burro.

-Então o quê fazemos na andança? O que fazemos nesse rumo, nessa pressa, nesse passo? – pergunta ainda o potrinho.

O burro pensa.

-Fugimos do tempo.

Como se sabe, o tempo passa diferente em cada lugar, em cada pedaço de terra, em casa filete de água corrente.

Fugimos das horas.

Os bichos marchavam para o sul naquela época do ano.

Eles fugiam das horas, pois mesmo sem água, comida ou circo, os bichos não morrem.

Apesar de serem tocados pelos outros animais, os bichos continuam de pé, são rebeldes à terra, não doam a carne.

Os bichos fogem do tempo, pois não morrem nunca. Os bichos não fogem da morte.

20.02.05

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