A não vida existente faz com que Tortuga também não exista. Não há ninguém para experimentá-la, prová-la, deixá-la escorrer entre os dedos. O perigo e o sal iminentes deixariam qualquer um maluco, sugaria qualquer ensaio de doçura ou de humanidade. Todos bichos, e só bichos desinteressados na realidade
Em Tortuga
Sejamos mais
O sol queimaria nossa pele de sapo e nos faria rajados e espertos, e o dia cederia em sangue á noite, e em um crepúsculo avermelhado, sentiríamos o gozo de sermos as estrelas que ainda estão por aparecer, lá em cima, no breu absoluto e dilacerador.
Escalando aquelas rochosas lá atrás, podemos ver bem mais que o infinito. Um barco desaparece ao longe, acenamos com sorrisos no rosto para as estátuas do bom costume que estão indo embora. -adeus! adeus!- repetimos, entrecortados por risadas eufóricas.
aprenderemos que as frutas apodrecidas não são menos gostosas e se soubermos respeitá-las, elas não fazem mal ao estômago. Deliciosas frutas e carnes de Tortuga! Nunca limparemos nossos rostos deles! Nunca limparemos nossos rostos da imoralidade! Nunca renegaríamos qualquer coisa que viesse de nós e do mundo!
Dormiríamos em paz, em Tortuga, como crianças. E como crianças contaríamos historias da época em que podíamos voar e respirar debaixo da água, assim nossos sonhos seriam adornados de visões de todos os ângulos possíveis do mundo.
Nos amaríamos tão intensamente na nossa insanidade! Nos amaríamos tão completamente que nada seria dito sobre isso, e no fim da tarde, cansados, encostaríamos as nossas cabeças uma na outra e adormeceríamos levemente. Sem escrúpulos, em Tortuga, só paixão. Sem amanhãs em Tortuga, sem horas, sem previsões. Nenhum medo da morte em Tortuga, sem prisões! Sejamos mais em Tortuga! Sejamos pólvora e gatos selvagens!
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