19 de novembro de 2006

A bíblia e o álcool

Só um pouco anestesiante e amortecedor

Sem equilíbrio ou com uma esperança doentia as coisas não parecem mortais.

Então encha a cara, ou leia a bíblia.

Ás maiores dores do mundo, ás desgraças inoportunas e sem direção de arte, á todas as crianças e homens abandonados.

E assim se segue. qualquer verdade que te conforte vira uma religião.

A ciência. A arte. O amor. Escolha uma.

É acreditar cegamente e seguir em frente. Vamos lá. Temos hora para o jantar.

Ou não...

Aí você vira o que?

Sei lá...

Quando não se acredita em nada, o que somos?

Eu não acredito em você. E agora?

Auto piedoso é aquele que se concede uma crença vital. Arranja-se um espaço de existência possível, uma razão e um caminho, uma vida ou fim justo dela. A verdade se faz abrigo, comida e nome: um útero. Quando você deve pagar por ela? Um sorriso basta? Um esquecimento?

É mais conveniente vender a alma ao diabo...

Será que ainda não nascemos? Que somos fetos alimentados por nós mesmos? Alimentados pelo tal “otimismo que se bebe”? e não se acreditarmos nela? Existe algo depois desse mar de petróleo borbulhante?

Quando não se tem uma verdade.... o que se é? Onde se está? O que se come?

Olha... eu não tenho um rosto! Olha!

Você consegue enxergar por trás dos óculos das pessoas? E por trás dos sorrisos? Aquele no espelho... ele te vê? Aposto que ele responde silenciosamente ás suas perguntas despropositadas de sua alma jovem e poderosa. De carne fresca e esperançosa. Aquele no espelho... ele te vê? Ele o ajudaria a carregar o seu fardo? Você se conforta naquele olhar? E quando você está sentado na rua, e chove, quando tudo acabou de desabar e você parece ser o único ser a ter as narinas sensíveis ao cheiro da fuligem e do enxofre que sobe das bases sólidas recém quebradas dessa grande cidade luminosa... ele te olha?

Esses pulsos cerrados quebram o que? Á quem ofendem? E se ofendem, qual o seu potencial de pedir perdão pelos destroços? Você cuspiu a sua piedade no ultimo bueiro, logo depois de ter sofrido uma desilusão. E agora?

E agora que não tem ao menos como voltar para sua vida pacata e livre dos perigos do pensamento? E agora que não se aquieta nem sedado? E agora que não tem mais nada?

15 de novembro de 2006

The Killing Moon

Under blue moon I saw you
So soon you'll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine


Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him

In starlit nights I saw you
So cruelly you kissed me
Your lips a magic world
Your sky all hung with jewels
The killing moon
Will come too soon


Under blue moon I saw you
So soon you'll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine

11 de novembro de 2006

“Você... quer ouvir a descrição da morte? A evacuação da alma.... será como uma tosse?”

Meus nervos nunca estiveram tão inchados e meu corpo nunca esteve tão imóvel. Uma bomba irá explodir na boca do meu estomago a qualquer minuto: é melhor travar os lábios para não cuspir fogo. Consigo sentir o calor, fruto do trabalho das minhas infinitas células para me manter vivo apenas para amar aquela criatura por todos esses longos anos, escapando por todos os meus poros de uma só vez.

Eu olho bem no fundo desses olhos incertos de si mesmos. Eu olho o corpo indócil que por muitas vezes me fez suspirar profundamente quando em sua presença e rastejar de agonia no caso raro de sua ausência, que viciou minhas mãos e hábitos e pensamento, que me escravizou.

Eu olho os seios ofegantes do cansaço e da euforia daquelas ultimas horas de ruína, como se nunca os tivesse visto, como se já não me fossem íntimos, como uma aparição divina.

Era o ultimo suspiro ante a morte pontual e irremediável, o ultimo segundo, o susto, um bocado de ar preso no pulmão imóvel depois da inalação repentina da verdade. Era o espanto dividindo as bocas nunca dantes desunidas, mas eu ainda assim consigo sentir o cheiro de seu hálito: docemente irresistível, estranhamente familiar, como a sombra da sua vida abandonada com profundo desapego na ultima esquina depois da descoberta da própria mediocridade e infinita beleza estética.

Eu me viro e caminho até a porta. Eu não olho pra trás.

Eu teria dito algo ofensivo, ou feito qualquer coisa que a marcaria a memória e a faria chorar de arrependimento no dia de sua morte, que não contaria a ninguém por pura vergonha de ter um dia visto tal atrocidade e, por isso, não ser mais um ser limpo, como gostava de se vender. Eu teria cortado sua garganta e arrancado suas unhas uma a uma. Eu teria dito: eu nunca gostei do seu cheiro... Mas na frente de tudo isso pairava uma certeza de que nada precisa ser dito, de que isso, por si só, já é o ponto final que reúne nele a essência de toda a longa frase dispensável que o precede, ou seja, a vida.

Eu deixo a chave do lado de dentro. Eu saio. Eu deixo a porta aberta, talvez na esperança de qualquer desses psicopatas criados pelo mundo moderno encontrar naquele quarto e a naquele corpo a possibilidade de liberar todas as suas angustias doentias e sufocadas pela televisão e promover orgias de sangue e dor, fazendo tudo parecer justo.

Mas o espelho não foi quebrado. E meu peito ainda arde em fogo.

Até que eu tire essa vida fácil das minhas veias.

Quando eu chegar a 10, feche os olhos.