15 de setembro de 2007

Ana algemada

Ele a trancaria em um quarto escuro até que ela chorasse e pedisse desculpas. Ele não agüentava mais sua liberdade, seu jeito de afirmar que vivia. Ele amarraria seus pés em uma pesada peça de aço maciço e a deixaria apodrecer de tantos anos acumulados nas suas juntas. Ele lhe conservaria a vida, claro, e guardaria suas lagrimas em um pote e gravaria o som do desespero em uma fita cassete empoeirada que ele guardara a vida inteira especialmente para aquela ocasião. Não era suficiente que Ana existisse em desgraça, não era isso. Ele a queria feliz como um coelho. Ele amava Ana, e quem ama cuida, já se sabe. Por isso ele amputaria os braços e as pernas de Ana e a deixaria em um poço com água até o pescoço até sua carne começar a derreter e ele ter de enxugá-la com o maior cuidado. Até que Ana sofresse por ele, até que ela chorasse, ela ficaria ali. E depois não importava. Poderia viver o que quisesse e até ser feliz, com uma família e almoços de domingo. A única questão era que seria ele o libertador. Ele libertaria Ana e ela, com lagrimas nos olhos, não saberia mais viver se ele, como um passaro preso a vida inteira que não aprendeu a caçar seus próprios insetos. ele tiraria sua coleira. Ele a deixaria. Feito um macaco adestrado. Feito uma orca em cativeiro. Feito um homem qualquer de nosso tempo.

Nervoso, ele sabia que não agüentaria mais muito tempo estando Ana livre. Ela havia rido dele e depois havia partido. Ela nunca havia estado lá. Ana nunca havia estado, em momento qualquer. Vadia. Mentirosa. Terrorista. Ele ficou anos aprisionado no coração de Ana, nas mãos e nos cabelos dela. Ele só ouvia os seus risos e atentava as suas quedas. Ele havia estado anos caminhando em círculos no cubículo que é o coração oco, pobre e sujo de Ana. O coração vil. O coração perverso. O coração de Ana, sua casa, lar, o único lugar do mundo.

E quando Ana gritasse do fundo do poço, ele gritaria de volta: a culpa é sua, aninha. Eu aprendi com você a aprisionar pessoas.

Será que ela o entenderia? Não. Ana nunca entenderia a ninguém. Ana é só um riso, uma fagulha de paixão que logo se apaga. Ana é uma miragem, uma coisa falsa que nunca existiu e nunca foi fiel e nunca vai ser. Ana era uma mentira, a grande mentira do mundo pra si mesmo. Ana era sua prisão eterna.

E ele havia descoberto. Havia descoberto que o melhor a se fazer com uma prisão é aprisioná-la. E deixá-la sofrer. Fazê-la chorar. E depois gritar em resposta: seja seu próprio cárcere! Se fode!

Um comentário:

Anônimo disse...

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