18 de maio de 2008

Amarelo

Ambiente bucólico morreu nas chamas de uma usina

Junto dele se foram minhas palavras e meu instinto literário

Sinceramente, fodam-se todos.

Eu queria engolir toda a histeria do centro da cidade na tarde de segunda feira

Esmalte vermelho ruído nas unhas da minha heroína moderna

No bar de uma esquina entre dois becos sem saída.

Quer caminhar sobre as cinzas de um funeral?

Atropelar os corações nas vias movimentadas?

Ouça-me, e desista da sua tarefa espiritual.

Seu caminho foi uma mentira. Nas salas principais de todos os prédios de negócios das metrópoles do mundo, eles conversam sobre o movimento dos navios e das maquinarias maiores que seus sonhos. Sua inutilidade te alimenta enquanto você vê tv. Desista. Olhe nos meus olhos e desista. Seu caminho foi um sonho de ópio inventado pela infância perdida. Daqui e de lá vem os ecos das pessoas perdidas. Daqui e de lá a desilusão suspira e geme. Você sonhava ajudar os carentes. Abra os olhos e veja. Ouça o som de seu futuro: pratos quebrados, maquina de lavar, teclas de um computador imundo, tosse com catarro, cachorro morrendo e seus filhos chorando.

Os tambores de uma civilização de deuses subterrâneos arrancam uma entoada para sua morte. Uma voz aguda reza para você ir em paz. para você ir em paz.

Um pano amarelo esvoaçante cobre todos os prédios da cidade. A luz do sol se solidificou em poeira. Um monte de poeira amarela cobre a todos até o pescoço. Eles espirram e tossem e mais tarde vão dormir e nunca mais acordar.

Os tambores de uma civilização subterrânea de deuses arrancam uma entoada pela sua alma.

As peixarias e os açougues matam todos os animais. As lojas americanas matam todas as almas. Uma criança chora, não deveria ter nascido.

Metrô e carros e aviões e barcos e formigas e humanos e lixo de cheiro doce. Porque eu sempre acabo falando de todos eles?

Baratas amarelas sobre doces de São Cosme e Damião no pé de uma arvore negra. De um lado pro outro em um metro quadrado. Arvores não se parecem com arvores. Homens não se parecem com homens. Estão retorcidos sobre seus próprios corpos, estão cobertos por zilhões de dias anteriores, dias feios, dias ingratos. Estão cobertos por uma camada grossa de fuligem de dias anteriores. Um novo dia surgiu, o sol nasceu, tudo ficou como estava. Nenhum vento chegou pra limpar a cidade.

Minha psicóloga disse pra eu treinar a visão periférica.

Ninguém acha engraçado.

Eu não tenho mais nada a dizer. Eu nunca tive.

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