4 de junho de 2008

Caixa Fechada

Dois olhos fechados guardam uma porção de segredos.

Uma bolsa verde aveludada, uma porção de cigarros e erros.

As paredes ficaram marcadas pelos nossos olhares que como lanças se fincaram ali e nunca mais saíram.

Nunca mais saíram, nossos olhos, um no outro.

O entrelaçar dos dedos sujos, unhas comidas, linhas tão finas...

Na palma suada da mão, escrevi: “eu te amo”.

E a tinta se misturou com minha pele esverdeada.

Às vezes, quando o sol se põe e faz frio, eu penso em uma lagoa com fadas subaquáticas saltando em direção a lua.

A lagoa negra guarda uma porção de segredos: eu os cochicho, ela me escuta e sussurra de volta. Assim é bom entrar nua em suas águas, mesmo não sabendo o que vai encontrar lá embaixo.

As vezes, quando o vento é forte e faz mover as nuvens, eu deito nas pedras do final da praia. O mar abraça todo mundo lá embaixo, mas a mim não. Tenho medo do mar e prefiro ficar com as nuvens, que são macias e não fazem você desaparecer pra sempre.

Eu tenho medo de desaparecer pra sempre. Eu queria às vezes, mas só por algum tempo. Pra sempre é tempo demais pra qualquer coisa, até pra desaparecer.

O lugar onde as pessoas ficam quando elas desaparecem, guarda muitos segredos. As pessoas desaparecidas viram segredos. O segredo de todos. De todos, um único segredo.

O meu segredo é indizível, é intocável e nunca existiu; às vezes, quando eu fico em silencio, parece que ele está atrás da minha nuca, fazendo cócegas. Mas é difícil rir. Eu não acredito em coisas que não existem; acredito tampouco nas que existem.

Quantos segredos deve guardar uma mascara? Por dentro dela. Na parte que se encosta à face.

É na parte oculta da mascara onde ela se comunica conosco e onde nós nos comunicamos com ela. Segredos passados face a face, no escuro e no suor; como sexo, como lagrimas ou saliva. No fundo tudo isso é segredo; nunca será desvendado. O espaço entre uma e outra palavra, o hiato de pensamento lógico.

A verdade é um segredo. E o erro, uma verdade.

Eu engoli suas lagrimas, te toquei no escuro. Eu provei do seu sexo. Eu sou sua lacuna.

Nós somos um segredo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Apareceu a margarida!

Segredo. Essa é uma boa definição pra alguns dos seus textos.
Quando venho aqui, me sinto como se estivesse lendo textos escondidos em uma gaveta que eu descobri sem querer num dia qualquer; como se eles fossem mesmo secretos e só eu lesse.