25 de julho de 2008

mais do mesmo

Cena 1:

No palco está uma poltrona de couro marrom, velha e gasta. Atrás, um grande armário de madeira com três portas. Ao lado, uma mesinha que sustenta um abajur de luz fraca e amarela.

Ana passeia pela platéia. A atriz, sobre o palco, fisgou no ar um movimento esvoaçasne do vestido azul turquesa. A seda fina roçava nas pernas de Ana, e ela passeava, apanhando um vento imaginário que varria os corredores escuros do teatro e as pernas das cadeiras do publico. A atriz se mantinha em seu mundo interpretativo, exatamente como haviam ensaiado: Ana passeava em volta do palco, ela permaneceria em uma bolha de silencio. Ana irromperia por uma das portas do fundo, ela a olharia, notaria seu vestido de seda azul, só.

Ela está de pé, em frente à poltrona. As mãos juntas na altura do peito e o olhar fixo em um ponto que só a ela foi desvendado (ninguém mais no mundo pode vê-lo). A luz vertical branca que incidia fortemente sobre seu corpo vai lentamente perdendo a sua força. Logo, só o abajur ilumina a silhueta da atriz e dos moveis dispostos na cena. A moça senta, delicada. Fricciona as mãos levemente. Limpa uma poeira irreal da barra de seu vestido. Olha para o lado, mirando o abajur, e o desliga.

Cena 2:

Ainda na escuridão, ouve-se um telefone tocar. O ruído agudo perfura todas as camadas do silencio entre o palco e a platéia. A mulher, sentada a poltrona como se não houvesse se mexido desde a cena anterior acende novamente o abajur. O telefone toca ininterruptamente. Ela olha o telefone por um período considerável de tempo e então desliga novamente o abajur.

Cena 3:

Um balcão de madeira fina atravessa a frontalidade do palco. A moça está usando um avental de aparência suja. Por baixo dele, está nua. Sobre o balcão, uma panela com macarrão cozido, ovos, um grande balde metálico contendo pedaços de carne de diferentes tamanhos, um par de sapatos masculinos e uma bola de plástico azul.

A moça retira um pedaço de carne e o coloca sobre o balcão. Retira outro, e coloca ao lado do primeiro, e assim sucessivamente até que se desenhe o contorno de um corpo humano. Dentro do contorno, o macarrão cozido é despejado. Ela o espalha suavemente até cobrir toda a superfície. Tudo isso deve ser feito muito lentamente.

Posteriormente, um ovo é posto no topo da cabeça do corpo construído. Outro na altura do coração e outro na altura do sexo.

Uma pausa de observação.

Coloca a bola de plástico azul no meio do peito. Os sapatos masculinos são calçados pela moça ( eles são bem maiores que seus pés).

De debaixo no balcão, a moça retira uma caixa de metal, que contém muitos pregos de vários tamanhos diferentes e um martelo grande.

Um a um, ela prega os pedaços de carne na madeira do balcão. Com um prego maior, ela prega a bola de plástico. A luz cai.

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