23 de julho de 2008

Ana me espera no fim da ponte. A água que escorre por baixo é a voz de Ana, que me chama. Parece que está lá há pouco mais de um ano, ou um ano exato.

Parece que todo esse tempo, não parei momento algum de ouvir o seu chamado. Ela estava lá o tempo todo, sempre, sentada na beirada da ponte, com os pés brancos afundados na água que me chama.

Ontem me banhei na água gelada e pensei em Ana. No outro morro pude vê-la, sentada numa arvore, com seus pássaros. Tive saudade de sua voz e medo de seus olhos. Seus olhos são amedrontadores, eu disse. Queria que fosse cega, que não tivesse olhos.

(Uma vez Ana olhou pra mim tão fundo que pude sentir meu coração parar. Pensei que não fosse voltar a viver, ou que viva eu estivesse pela primeira vez).

Mas não vou encontrar Ana. Não vou. Não posso. Tenho medo. Pois Ana é água. Está em todos os lugares do mundo e não posso prender em minhas mãos, ela vai embora.

Ana sempre vai embora.

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