Acho que não existe dor maior que a perda e a certeza pós-obtida do fracasso. Maior que o nada é a certeza do tudo que se foi, que não pode mais ser.
E no meio de tudo isso existe um ser, só e único, que não pode reparar na própria beleza pois nascera para se odiar e lamentar a sua forma e espírito. Daqui, vejo o ralo que traga de uma única vez toda a água suja que escorreu de mim. cúmplice e amigo, ele se cala, mesmo engolindo todas as minhas sujeiras.
Tento extrair de mim algo para me consolar. Consolo só no colo da mãe, que morreu. Consolo só no escuro, do qual eu já não tenho mais medo. Então é no escuro que estou.
Ele saiu de casa com pesar. Algo o obrigara. Ele queria ficar, e ficar e ficar. Mas abriu a porta e se jogou nas veias abertas da cidade que rugia. Ele deveria ter organizado seus papeis e seus cd´s. ele deveria ter feito café e limpado a cozinha. Mas nada o queria ali. A rua tem possibilidades nocivas. A casa tem ruídos insignificantes.
Vocês mimam uns aos outros e se fazem carinhos. E eu, que tenho o estomago aberto? Ninguém vai costurar minhas feridas! Ninguém vai esquentar o leite pra eu tomar. Ninguém vai me mostrar o que deve ser feito. e se eu errar, vocês vão me sacrificar!
“Posso te seguir? Aonde você vai? Eu vou também, ta bom?! Você quer me dizer alguma coisa? Quer saber quantos anos eu tenho? Quer ler a minha mão? Quer um cigarro? Sabe... um dia me disseram que dá pra ouvir o próprio sangue correndo nas veias quando tapamos os ouvidos. Eu achei isso interessante.
Teve um dia que eu tava na praia e de repente a maré começou a subir muito rápido e as ondas estouravam no calçadão e quase ia até os carros. Mas eu resolvi não sair de perto do mar.
- isso é mentira, a maré não pode subir tão rápido.
É, eu sei, por isso foi incrível.
...
não diga que o que eu falo é mentira, me ofende.
- mas é...
é... mas não fale isso.”
E o pequeno príncipe deu adeus à sua flor e foi conhecer coisas bem menos importantes do que ela...
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