29 de setembro de 2008

he said:


As pessoas enlouquecem minuto a minuto. Cenas nojentas, do mais baixo nível do grotesco, invadem as minhas passagens. Um rapaz com o falo do tamanho do meu braço dançou em frente á fogueira recém formada da explosão de um carro na avenida podre de Copacabana. O homem sem casa dormiu na rua, cheirado de cola, bêbado de loucura, embebido na sua saliva espumante. É só o que eu vejo. Meninos de 13 anos arrancando a virgindade de uma criança fêmea de menos de 5. e eu entre os meus cigarros, pigarros e criticas insatisfatórias.
A quarentona foi dormir, drogada de ocadil, torazine e wisky. Os estudantes estimam um futuro cheio de remelas e sono forçado. Salas de aula quentes demais, ruas frias demais, noites barulhentas demais. Não há ninguém que passe por mim que não me cumprimente com o demônio de seus olhos. Tenho lepra na cabeça. Meus miolos vão rolando enquanto eu compro chapéus para esconder minhas deformações. Um pouco do meu cérebro caiu sobre os pés da vendedora maquiada. Ela fingiu não ver. Ela já não tinha o seu também.

Eu sento aqui e eu quero escrever algo bonito para mim e para todos. Passarinhos, águas, folhas, amor, destino...uma porção de coisas bregas que costumavam me fazer sorrir. “mas eu não sou assim”. Digo, eu não sou mais assim. Será?

Eu queria dizer de Ana, mas ela está tão longe que não me lembro nem mais de seu cheiro. Eu sabia que iria perde-la assim, de mim, e tanto que meu próprio coração se anestesiaria de sua existência fátua. Será?
Vou fechar os olhos e tentar lembrá-la, trazê-la pra cá, pra salvar o mundo. Os mantras contra o desespero e a solidão não estão adiantando nada e me sinto cada vez mais oxidada pelo que me cerca.

Festa só atrapalha. Não quero ver pessoas assim. Enlouquecidas. Estou eu mesma enlouquecida. Ana deveria vir e me tirar daqui. Será? Não sei de mais nada. Nem á essas palavras dou qualquer poder. Quem vai ler?

Sou água. Cada vez que me vejo triste, sou uma poça de água. Eu derreti. Derreti de tristeza de não saber me ser sem sofrer. Não me conheço nua. Conheço apenas a sombra que restou das tentativas frustradas de não ser eu. Entende?

Ana está em paz? Quem está em paz? Preciso de uma dose na veia, antes que eu me perca do desejo de tê-la.

Vou me enfiar no caixão do John Lennon e fingir que eu morri.
Adeus.

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