Primeira pessoa. Sujeito. Sou eu. Eu tenho a culpa e eu sou cristo de mim. Eu sou. Não direi mais desculpa, não me desculpe. Sou eu. Eu sou. Não assim, nem de nenhum jeito. A vida me expõe, digo, eu me exponho no ritmo que a vida conduz. Juro que ela me faz confissões no ouvido. Sou eu. Escuto Ana, mas e daí? Ana não é nada, e ela nunca existiu. Ana é o martírio que eu escolhi carregar pois ela parece mais leve do que eu. Mas sou eu. Eu digo, eu lhe falo, eu estou aqui. Existo, e não há remédio. Confesso que procurei. Mas o que agora? Trancar-me nos mini banheiros nojentos para chorar a minha covardia? Não mais. Agora sou. E digo não porque sou já, mas porque quero. E se quero sou. Minha vontade há de se sobrepor ao fluxo. Criar é uma forma de resistência e serei então dramaturga de minhas situações. Eu fiz. Eu caí. Eu não sou aquilo tudo que eu pude pensar enquanto estava sozinha debaixo da lada de lixo do mundo.eu fumo. Eu bebo. Eu sou descontrolada e desequilibrada. Eu sou mentirosa. Eu não me orgulho. Eu tenho uma grande barriga e pés muito pequenos. Eu tenho mãos masculinas. Eu tenho nariz grande. Eu tenho olhos castanhos. Eu tomo remédios. Eu adoro pessoas. Não sei expressar minha raiva. Falo baixo e as vezes grito sem qualquer motivo. Eu subo em cadeiras e delas desço com medo. Eu subo montanhas e delas desço com medo. Eu me construo amarras e nelas eu me enrolo. Eu me enrijeço e dentro de mim me sufoco. Eu tenho asma nervosa. Eu gosto de chamar atenção. Eu gosto de buscar cuidados. Eu fingiria desmaiar para que cuidassem de mim só porque me sinto só. Eu digo que odeio o céu azul, mas quando o dia nasce limpo eu vou à praia. Eu gosto muito de chuva, mas em momentos desapropriados eu quero mandar são Pedro se fuder. Eu compro roupas e não uso. Eu tenho óculos escuros e não uso. Eu durmo e não descanso. Eu medito apenas quando estou em carros seguros pelos quais eu não tenho de pagar por e nem tenho de conversar com ninguém. Eu passo o ano querendo viajar mas quando fora, não sei o que ali me levou. Rôo unhas e não sei ser direta. Me sinto perdida mesmo sabendo o caminho. Não sou má, eu acho. Mas também não sou uma pessoa boa. Todo dia é o ultimo da minha vida e eu o vivo pensando no próximo. Eu sou o que ainda não sou, embrionária, dupla, tripla, múltipla. Eu sei que você não gosta de mim, mas eu gosto de você mesmo assim.
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