Um dia ela já ali não está. Acordas e ela já ali não está. Partiu de noite. A marca do corpo ainda está nos lençóis, está fria. (...)
Não há mais nada no quarto, só tu. O corpo dela desapareceu. A diferença entre tu e ela confirma-se pela sua repentina ausência.
Ao longe, nas praias, gaivotas gritariam na escuridão a acabar, começariam já a alimentar-se do vermes do lodo a remexer nas areias que a maré baixa abandonou. No escuro, o grito louco das gaivotas esfomeadas, parece-te de repente que nunca o ouviste.
Ela não voltaria nunca.
Nessa noite em que partiu, num bar, contas a história. Primeiro como se fosse possível Fazê-lo, e depois desistes.
(...)
Quando choraste, foi só por ti e não pela admirável impossibilidade de te juntares a ela através da diferença que vos separa.
De toda a história reténs apenas determinadas palavras que ela disse no sono, essas palavras dizem aquilo que te atingiu: Doença da morte.
Depressa desistes, deixas de a procurar, nem na cidade, bem na noite, nem no dia.
No entanto, assim pudeste viver este amor da única maneira possível para ti, perdendo-o antes que acontecesse.»
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