10 de novembro de 2010

pra ele, e não para ela

Um dia ela já ali não está. Acordas e ela já ali não está. Partiu de noite. A marca do corpo ainda está nos lençóis, está fria. (...)


Não há mais nada no quarto, só tu. O corpo dela desapareceu. A diferença entre tu e ela confirma-se pela sua repentina ausência.

Ao longe, nas praias, gaivotas gritariam na escuridão a acabar, começariam já a alimentar-se do vermes do lodo a remexer nas areias que a maré baixa abandonou. No escuro, o grito louco das gaivotas esfomeadas, parece-te de repente que nunca o ouviste.


Ela não voltaria nunca.

Nessa noite em que partiu, num bar, contas a história. Primeiro como se fosse possível Fazê-lo, e depois desistes.

(...)



Quando choraste, foi só por ti e não pela admirável impossibilidade de te juntares a ela através da diferença que vos separa.



De toda a história reténs apenas determinadas palavras que ela disse no sono, essas palavras dizem aquilo que te atingiu: Doença da morte.

Depressa desistes, deixas de a procurar, nem na cidade, bem na noite, nem no dia.

No entanto, assim pudeste viver este amor da única maneira possível para ti, perdendo-o antes que acontecesse.»

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