Sou como uma aranha pequena em um banheiro rico.
Todas as superfícies brancas-escorregadias golpeiam o destino. Vejo-me
refletida. Coloca ali as patas finas. Geladas, mudas e refráteis. Tento aquela
e não posso. Me viro, ando. Há mais uma. Tento e não posso. Esqueço-me da
primeira. Me viro e tento-a novamente. Não posso. E assim por diante. Não sei quando terminei pois perdi o
interesse e parei de me olhar.
Em todo o espaço a minha frente há uma enorme pessoa
como eu. ela é o próprio lugar, o ar e toda sua matéria. Parece que não é nada,
mas é um enorme corpo de pessoa gigante. Quando estou olhando o vazio, na
verdade estou olhando para este rosto mudo que me olha de volta. Não temos nada
a dizer um pro outro ainda. Quando olho o vazio espero a palavra deste rosto
mudo como o meu. Compartilhamos todos os momentos de nadas enormes, gigantes
como o corpo. o corpo é gigante pois nele tem que caber todo o nada e todo o
silencio que sustenta pela eternidade. O rosto mudo de nariz gigante colado ao
meu nariz molhado. Respiramos a brisa humana secreta um do outro. Será que ele
guarda meu segredo? Quando será que ele vai abrir a grande boca para me soprar
o destino? Será que ele vai me engolir ao invés disto? Abre a boca, rosto. Quero
ver o que há por dentro do futuro.
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