21 de abril de 2014

morremos



Morremos. Não mais ansiedade, não mais medo.  Tudo havia saído como esperado, todos nós sabíamos no que aquilo tudo daria. O motivo foi o excesso. Apostamos todas as fichas em um pouco mais de felicidade, sempre um pouco mais de embriaguez, sempre um pouco mais.  Não mais arvore, não mais terra, não mais dia e noite. Morremos. Respiramos fundo demais, nos afogamos em oxigênio. Tudo estava cheio demais de tudo. Não suportamos o tanto. Tanto que não podíamos nem mais dizer o quanto, em uma aspirada boa pela boca e pelo nariz ao mesmo tempo tragamos a terra. A terra dentro de nós não coube. Morremos.  Nada mais de linguagem, nada mais de pausa, nada mais e palavra, nada mais de corte.  Hoje é tudo contínuo. Nada mais. Tempo e espaço misturados, as paralelas se encontraram neste ponto infinito aqui, agora, como suportar a densidade da hora agora do tempo agora do espaço infinito agora do tudo junto? O cadáver. Dentro do cadáver a terra. A terra se refaz, biparte células, cria tudo de novo, ontem e amanhã, no interior do cadáver, entre as costelas do cadáver a árvore. Não mais ansiedade, não mais tempo, não mais pedaço. O corpo humano resiste em sua forma, não explode, sucumbe na tentativa da contenção. Morremos. De tempestade solar, de inundação, de fome, de ressaca. Não mais narrar.

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