22 de julho de 2007

O PARQUE DAS LUZES PERDIDAS

O sol do fim da tarde de um outono feliz me deixou saudades. A brisa suave. O sorriso de Ana. O sorriso de Ana é como uma estrela morta; ele vai brilhar um bilhão de anos após ter morrido. Ana é como uma estrela morta. Uma estrela morta não é como o sol, que tememos que morra e com ele mate a todos. Uma estrela morta já está morta, sempre estará e nada vai mudar isso. Será que podemos esperar que uma estrela morta renasça?! Ou seria melhor procurar por uma estrela viva? E o que diferencia uma estrela morta de uma estrela viva? A luz que delas me chega brilha igualmente dentro do meu quarto escuro. Talvez brilhe mais a luz da estrela morta. Pois a estrela morta é como Ana e nada mais é como Ana.

Sonhei que havia encontrado um elixir que permitia ressuscitar cadáveres. Com ele eu ressuscitava as tardes do outono feliz, e o sorriso de Ana, e muitas estrelas mortas. Fazia uma festa de cadáveres amáveis.

Será o céu mais do que um grande cemitério? Seria por isso que minha vida inteira estive em luto? Em luto pelas estrelas mortas, que ninguém sente falta?! Em luto por Ana, morta entre as estrelas?! Pelo sorriso de Ana? Onde será que repousa morto um sorriso que já se extinguiu? Onde será que descansam todas as chamas apagadas? Será que existe um quarto, no canto do universo, cuja a chave permanece escondida? Um quarto que guarda para a eternidade todos as coisas mortas? Será que o tempo esqueceu de alguns lugares? Será que eu poderia achar o meu ano passado dentro de alguma caixa embaixo da cama?

Ah! Eu poderia sonhar com o cemitério de todas essas belezas mortas! Que lindo sonho seria!

Não. Não era sobre isso que eu queria escrever. eu queria escrever sobre um amor. Sobre a eterna paz de um amor. Sobre os segundos de amor. Não sobre o falecimento de um. Eu queria falar sobre o pano macio do amor, um algodão velho e fino. Sobre as noites dormidas de um amor. Mas acabei falando sobre os últimos segundos trêmulos de uma boca ardente, novamente. Eu queria falar sobre a manha acordada com o amor, sobre uma cama, um ninho, o leito do amor vivo. Sobre os sorrisos que o amor me deu.

Mas agora eu tenho uma caixa selada no lugar do coração. E eu sou também uma estrela morta. Resta-me saber onde estou. Resta-me brilhar sem medo da morte. Pois Ana... Ana está morta como eu.

13 de julho de 2007

SORRIA!! =)

Eu queria uma boa imagem pra descrever a beirada do mundo, mas eu não a tenho. Digo, eu tenho muitas imagens, mas nenhuma para a beirada do mundo. Eu diria que lá o vento sopra forte e a areia de algum deserto entra nos olhos e na boca, deixando tudo seco e ferido. Mas não é assim, eu não posso mentir. Gostaria muito que fosse, mas não é. Eu diria também que lá não há nada; que há cegueira, breu, frio e apatia: a ausência. Mas também não estaria certo.

Quem será que já foi a beirada do mundo? Gostaria de olhar em tais olhos... são esses olhos também uma beirada deles mesmos. Como os meus? Como os meus, talvez, que são uma beirada do nada. Existe também a pergunta: se não há nada, como pode haver beira?! Certas coisas entendemos apenas com os olhos bem fechados.

Era um pesadelo, e você acordou de sobressalto no meio da noite. Nele, você andava com os pés descalços sobre um monte de folhas secas. E o que há de assustador?! O medo não se via, no entanto você sabia que por debaixo daquelas folhas uma dor espreitava sedenta pela carne fria de seus pés e isso o fazia não conseguir respirar. Era um longo caminho...

Então você acordou e tudo parecia limpo e sólido, perfeitamente real e quadrado. Mas o que havia por trás daquele ar?! Um grande suspiro. Um suspiro que duraria uma eternidade de tão intenso que era. Como uma mensagem enviada pelos ventos através dos tempos e das terras, algo forte, como o tambor dos índios, algo que, sei lá, que irremediavelmente estaria lá.

O pulmão ainda assim não conseguia respirar e o coração pesava como o de um jovem homem condenado à morte.

E então você acordou de sobressalto, todo estirado em cima daquela cama dura. Fazia calor e o ventilador de teto, com seu funcionamento miserável, só espalhava o cheiro de suor que se desprendia da coberta áspera. Um quarto de hotel. Era dia. Você só queria sentir algum amor pelo sol. Ele brilhava, rei lindo e quente naquele lugar de corações frios. Você o amava em algum lugar da sua alma, mas isso não mudava nada. Não era o suficiente. Nunca havia sido. Meu deus, de onde pode vir tanta devassidão?!

Você caminha até a janela se sentindo o maior dos hereges, o maior dos traidores de seus próprios amores. Há um desespero contido que você tenta ignorar mas que, revoltado, queima as suas costas de cima a baixo. Tudo é fogo, não é mesmo?! As lagrimas secaram há tanto tempo. Você não estava mais ligando há tanto tempo.

E lembra dos pesadelos da noite infernal no hotel desconhecido que você queria tanto chamar de casa. E do sexo com as pessoas perfeitas que você queria tanto chamar de amadas. E da vida que você queria tanto chamar de sua. E dos seus olhos... dos seus lindos olhos que você queria tanto chamar de ricos.

Você escreve um poema, com todo a coragem e devoção. Um poema que você queria tanto chamar de feliz.

No decorrer do dia eu posso te assegurar de que você vai constatar pela qüinquagésima vez na sua vida que os momentos não passam de sobressaltos no meio da madrugada e que tudo é um eterno acordar, ou dormir. Tudo é “a copia da copia da copia”. Você só escuta os sussurros e só vê as sombras do mundo que alguns cismam em chamar de real. Você está preso na caverna de Platão, na mente dele. Você queria que Platão estivesse vivo só pra poder esfaqueá-lo inúmeras vezes até ele falar enfim como se sai da caverna.

Maldito.

Platão', que nome estúpido.

12 de junho de 2007

Why not?!

Experimentação Desmotivada n°541

Estar sem você é como segurar a respiração.

Você sabe que uma hora não vai agüentar mais. E tudo que você pensa é em subir a superfície e em como as moléculas de oxigênio estão sendo consumidas a cada fração de segundo pelo seu corpo que você tenta manter imóvel para que o oxigênio dure mais, mas acaba se mexendo bastante porque a agonia de não respirar é muito grande para ficar presa só na mente e então acaba se espalhando pro resto do corpo. Quando se segura a respiração a única coisa importante é respirar de novo, o resto desaparece. Só há a certeza da vida, e a ironia dessa verdade, o desconforto.

Daqui de cima da indiferença até parece uma situação engraçada. Dá pra todas as pessoas segurando a respiração. E se debatendo. Torcendo pra acabar logo. A humanidade é um corpo com falta de oxigênio, ciente de sua inevitável morte, desesperado e irônico, com espasmos inconseqüentes.

9 de junho de 2007

Tchau...

Do meu peito, selei a fonte.

Os cacos mofam debaixo do tapete. O desgosto falou mais alto. Pariu-me o mundo: eu,um ser oco.

O espetáculo chegou ao fim. Sou um teatro vazio.

É lá possível compreender um deus assim?!

Esse deus não passa de um monte de dor.

Desde já, então, peço: liberte-me.

O meu amor eu já dei todo. Nos braços do horizonte eu me despeço das ilusões estraçalhadas. Um braço caído para cada lado.

E não me detenho mais às mentiras. Meu orgulho já se foi nos braços de outro.

Digo: esse não era o meu sonho. Mas fazer o que?! Está feito. E morto.

13 de maio de 2007

O Resto da minha Vida

Ela deve deixar a casa; ela vai se sentir sozinha.

Deve pegar essa estrada longa, e os passarinhos a vão seguir pra sempre. Ela tem medo. Ela tem muitas vozes dentro de si. Ela logo vai cansar. Logo ela vai aprender a perdoar a morte, a solidão e a preguiça. Logo ela vai se libertar do ócio. O céu a vai acompanhar sempre. Ela vai se deitar em qualquer lugar, debaixo das nuvens brancas e do sol fraco. Ela vai se unir aos forasteiros com violas e tabaco e vai ensiná-los a amar. Vai receber agrados dos ventos, vai ser portadora dos segredos das pedras e das arvores milenares. Ela vai comer a terra e as folhas, vai mergulhar no rio claro, vai abraçar águas revoltas.

Ela vai se esquecer de usar talheres, vai comer com as mãos. Vai esquecer os dias, as horas, e todos os vícios do tempo. Ela vai se esquecer do terror, e fazer o mundo nunca mais sentir dor. Ela vai cantar na língua dos lobos. Vai se apaixonar por uma margarida. Vai molhar os pés à noite, sentir o frio nos ossos e por isso rir. Todas as iras serão cócegas. Todas as chuvas serão sagradas. Ela vai florescer.

Ela vai se tornar um deus, todas as coisas, todo o amor.

Ela quer levar você com ela. Quer te cantar uma musica e dormir nos seus braços. Ela quer beijar os seus dedos, olhar nos seus olhos, cheiras seu cabelo.

Ela deve deixar a casa. Ela deve andar por uma estrada. Ela quer te dar a mão.

7 de março de 2007

3:10 am

Silêncio.

Uma longa estrada em penumbra que uma curva misteriosa encerra. O que vem depois?

Silêncio.

O espaço se detém por todos os lados. Em toda parte é espaço e mais nada. Quantos passos existem entre esta estrada e o céu? Há no céu também uma estrada? Será, esta estrada, o único céu?

Eco. Eco... Silêncio.

6 de fevereiro de 2007

Um parágrafo ruim e só.

Sei que naquela tarde, o garoto sorriu assim, despretensiosamente. Um buraco em algum lugar do mundo o chamou a atenção e ele olhou fundo nos olhos do horizonte cinza, por trás das colinas queimadas. Estava muito cansado. Havia esperado tempo demais e agora seus músculos se desfaziam. Alguém, talvez ele mesmo, talvez uma outra parte amputada dele, gritava socorro. Estava ela de pé, em frente a esse imenso buraco sem fim, mirando o negro nada. Ele não correria para salvá-la. Ele ficaria ali, sentado, examinando as linhas de sua mão esquerda. E essa idéia se mostrou extremamente engraçada.