11 de novembro de 2010

a anti-rosa atômica, para qualquer um

As vezes os sentimentos resistem à uma passagem continua do tempo, e isso não serve para nada efetivamente para essa pessoa que o guarda, essa casca, essa triste criatura.Isso serve para uma coisa. E a coisa acontece mais ou menos assim:

Quando o sentimento é guardado - e não se transforma em câncer ou em outro sentimento– e isso é importante e muito difícil de acontecer, pois existe uma pressão para a mudança – a existência dele é como uma vergonha para todos que o sabem existir. Cria um desconforto social, um constrangimento. Mas a pessoa casca não. Ela mostra, fala disso elegantemente, ela entende; os outros não querem entender pois assim teriam de admitir a naturalidade de tal acontecimento, e teriam de se perdoar também por carregarem as vezes, durante algum tempo, velhos cadáveres.

Digo cadáveres por uma consolidação da ideia de passagem, de morte, de fim de algo que nem material é. Sendo imaterial, abstração, é perecível apenas segundo uma lógica – também abstrata, igualmente imaterial e por isso reconcebivel, remodelavel , que se pode decretar o fim a qualquer momento: em todos os sentidos igual ao sentimento, partindo do eu que sente. Retomando, a transitoriedade das coisas imateriais é concebida tal qual a transitoriedade das coisas materiais. Como somos assim, profanos, e nosso serviço nesse mundo parece ser profanar a materialidade das coisas e depois joga-las à sua “transitoriedade”, sendo velho, fedido e louco aquele que guarda quinquilharias, vemo-nos aplicando a mesma lógica de consumo também Às coisas imateriais.

Não que tenhamos de sacralizar essas coisas. Esses sentimentos. Mas é importante saber que, independente da rotatividade de nossas materialidades, nossos bens imateriais não precisam sair de moda. As crenças, paixões e amores , diferentemente das batatas-fritas, dos cigarros, das TVs, das roupas, dos carros – tem a potencia de regerem sua própria lógica, seu próprio tempo e sua singular existência. Não sabemos disso pois não sabemos de nada. Pois cremos num Tempo, numa compreensão de tempo que não admite relativizações. O tempo do uso, do desgaste, o tempo do novo. Principalmente o tempo da auto apreciação cega, auto satisfação cega, impotente, insincera – esta é a apreciação e satisfação que devém de um eu inventado, de um eu que nasce na lógica compartilhada, um eu que não seria problema se pudesse ser transferível, esquecido, mas que ao contrario, assim como a lógica do tempo, não deixa seu posto à outros eus, e nisso já se constata sua insinceridade.

A rigidez das noções de qualquer coisa... às vezes me sufoca.

10 de novembro de 2010

pra ele, e não para ela

Um dia ela já ali não está. Acordas e ela já ali não está. Partiu de noite. A marca do corpo ainda está nos lençóis, está fria. (...)


Não há mais nada no quarto, só tu. O corpo dela desapareceu. A diferença entre tu e ela confirma-se pela sua repentina ausência.

Ao longe, nas praias, gaivotas gritariam na escuridão a acabar, começariam já a alimentar-se do vermes do lodo a remexer nas areias que a maré baixa abandonou. No escuro, o grito louco das gaivotas esfomeadas, parece-te de repente que nunca o ouviste.


Ela não voltaria nunca.

Nessa noite em que partiu, num bar, contas a história. Primeiro como se fosse possível Fazê-lo, e depois desistes.

(...)



Quando choraste, foi só por ti e não pela admirável impossibilidade de te juntares a ela através da diferença que vos separa.



De toda a história reténs apenas determinadas palavras que ela disse no sono, essas palavras dizem aquilo que te atingiu: Doença da morte.

Depressa desistes, deixas de a procurar, nem na cidade, bem na noite, nem no dia.

No entanto, assim pudeste viver este amor da única maneira possível para ti, perdendo-o antes que acontecesse.»
me conta uma estória?!





CLAP
CLAP
CLAP

OBRIGADO.
obrigado.

5 de novembro de 2010

Estar ciente das transformações que se dão no seu interior é uma questão política.  há de se crer na busca, reunir nossos exércitos, caminhar por esses terrenos arenosos,  e mesmo que doa, crer na dor.
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vivendo e aprendendo

que pagar de gatinha é a melhor solução

2 de novembro de 2010


massagear a cabeça dos mortos

feliz dia dos mortos

Não sou muito dada a encontros. Se as coisas que carregamos dentro de nós fossem água, a minha água dificilmente se misturaria com as outras. E não posso esconder. Ainda mais agora que estou meio assim, desacreditada. Uma coisa de cada vez, nesse tempo interno bastante lento quando comparado à movimentação das coisas, a rotatividade de pessoas, a rotatividade de paixões.


Eu nasci para ser uma flor, ninguém entende isso. Deveria ter uma cerca em volta de mim dizendo – não toque.