24 de junho de 2006

de quanto tempo o mundo é feito

Disritmia

Disritmia surda que me come o peito

Que me faz doente

De um corpo que nem a própria pele pertence

Corpo errante, manco e vago

Que a terra cospe em desagrado amargo

-Onde ficas tu, homem deserdado, homem desterrado

Se nem a estrada te abriga, o céu lhe lança facas?

Onde dormes tu, se nem a noite lhe apanha nos braços?

E onde vai assim, tão determinado

Se cada passo evidencia mais o teu estranhamento?

Onde leva a tua luta?

O que colhe, o que semeia?

Se só vaguei pelo mundo, como um filho que a nada torna?

Deixaste um grão em cada canto, e nunca vai erguer florestas.

E és estranho em todo ponto.

És estanho principalmente quando frente ao espelho despeja teu desencanto.

Gosto amargo, amargo e forte

Um motim na alma e pernas bambas

Procura enfurecido por um amor quebrado

Que te permita medir teu afago

E não tem sonhos esse guerreio

Que a nada quer vencer e em nenhuma guerra morreu

Sangra o peito

Sangra a mão

Sangra o mundo enquanto anda

Sangra o sangue em veias abertas

Sangra e nunca morre

Mas não sangra de bala

De ferida aberta e não cicatrizada

Sangra o homem enquanto anda, sangra o seu andar

Sangra a solidão e o apego a nada

Sangra de saudade e de compaixão

Sangra de burrice, de incerteza e apenas sangra

Sangra o homem enquanto anda.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!