Depois de cinco copos de água é assim que você se sente.
Porque não me avisou?
Você deveria saber e não tomou nenhuma providencia. Me viu entornando tudo dentro da minha boca grande e não levantou um dedo. Covarde.
Então é assim que as coisas são?
Eu não queria acreditar. Eu não acredito.
Vou tampar os ouvidos com dois pedaços de algodão ensopados de álcool e deitar nesse monte de pano velho até que um chamado divino me venha resgatar, ok?!
É que eu não quero mais nada. Eu não quero mais nada, e ponto.
Eu não quero nem o lirismo dos bêbados, nem o canto de Gaia.
Osmose. Um perigo. Cuidado você e cuidado todos.
Cuidado para não fazerem de si apenas a fusão deprimente de todos que te cruzam na rua. Cada um, cada cruz, e tenho dito. Dito eu, muitas mentiras, e como ser desenganado, peço-lhe desculpas. Culpa da osmose de novo, cuidado.
“ atormentas-te em vão a minha alma, ser infiel. Agora terá de arcar com a minha fúria! Condeno-lhe a cinco copos de água, e depois a uma morte crucificada. Agora traga-me um pedaço de pizza. E tenho dito”
Dito eu muitas mentiras.
Ninguém soube como se sentiram as pedras quando foram postas umas sobre as outras para erguer os castelos de cartas. Quando foram remetidas a essa hierarquia externa a própria vontade e obrigadas a subirem e dançarem e sobre a cabeça de suas iguais, sem nem ganharem títulos pois no final o castelo era de cartas. Ninguém soube como se sentiram as pedras. E ninguém se importa.
Eu aqui estou sentada esperando o castigo dos tempos por tudo isso que fizemos as pedras, enquanto todo o resto do mundo deve estar pensando o que vem em seguida.
O que vem em seguida?
O homem toca um saxofone enferrujado, sentado em uma cadeira de madeira velha que range a cada movimento brusco que o transe musical provoca nos músculos desse homem. Enquanto isso o sol de põe bem as sua costas e as folhas da arvore em cima da sua cabeça estremecem por um segundo antes de se soltarem do tronco seco e deslizarem amanteigadamente no ar, até tocarem levemente o chão. Depois o homem passa por cima delas, e elas quebram em milhões de pedacinhos que viram um lindo mosaico considerado pelas lesmas o mais belo evento natural de todo o ano. Fractal.
Uma bolha, dentro de outra bolha, dentro de outra bolha onde elefantes coloridos dançam ao som das notas tortas do saxofone do homem, que tentava improvisar uma melodia leve que pudesse transpor em musica o que o dizia a brisa daquela tarde e o sorriso de Madalena que aparecia apenas uma vez por dia, ente um gole e outro do chá das cinco.
Lesmas e elefantes dançam ao som do sorriso de Madalena, que mostra dentes tão brancos quando o marfim dos elefantes e possui lábios tão macios quanto o corpo das lesmas e ainda cheira a maçã fresca das colinas. Lábios tão úmidos quanto a margem do rio Mississipi e tão sonhadores quanto os passos de Oliver Twist. Eu nasci, eu cresci, tal qual Madalena, e acabei entornando cinco copos de água dentro da minha boca grande de lábios mais rachados e doloridos que a canção dos negros do sul dos EUA, ao quais eu tanto amo porque esses caras sim, esses caras sabiam fazer musica.
Então o tio John passava de bicicleta por aquela estrada de terra batida e amarela na manha do dia 24 de outubro e ouvia os corvos assustadores agitarem suas asas em algum lugar bem pra lá da plantação de milho, em cima de um possível espantalho feito de palha enquanto Dorothy jogava sobras do almoço aos porcos, que seriam a sua janta se não tivesse deixado ser levada pela musica do Pink Floyd até a terra de Oz. O que pouco sabia Dorothy era que em Oz tio John não passaria de bicicleta por lugar algum, que o possível espantalho seria feito de cimento e que em lugar de sobras de almoço, ela estaria jogando perolas aos porcos. Perolas que ela futuramente usaria nos jantares de velhos mágicos empresários que poderiam enlatar qualquer tarde de outono e vender no mercado de Tókio.
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