1 de outubro de 2007

O Jamais

A tarde pesou como um rinoceronte cansado. Como dizer, ainda, como dizer que Ana faltava? E porque faltava? Por onde andava? Faltava um pedaço de céu. Faltava uma parte da paz. Faltava um suspiro no vento, um sorriso no espelho. Faltava, só. E era Ana. Existia um hiato que gritava, uma ventania não o deixara o dormir durante toda a noite e esse sono... esse sono o doía. O doía pois sabia que jamais o deixaria de sentir. Ele se sentia o maior dos hereges, o maior dos amaldiçoados e o maior dos sábios. Pois só ele sabia de Ana e sabia o quanto Ana faltava. Mas só ele era o incomodo de Ana, o louco solitário a viver em uma falta tremenda, em um buraco tão fundo, que por mais que tentasse não podia ignorar.

“Eu sou o que não existe. Eu sou aquele que acredita em uma historia de fadas. Eu sou o que não pode ser.” - Ele pensava.

Ele vivia como se nunca houvesse conhecido Ana, era um mentiroso. Um mentiroso capturado por sua própria mentira, como qualquer um dos outros. Capturado e enganado. Ele não sabia o que doía mais, ou o que fazia mais sentido. Viver em mentira ou em busca daquele corcel invisível que agitava os ventos quando galopava lindamente durante as tardes mais lindas do mundo.

Deitado no chão do quarto, olhando as folhas verdes a tremerem com o vento frio que soprava lá fora, ele ouvia um grito estridente e rouco e cansado de tanto se repetir, que vinha direto de seu peito. O grito chamava por Ana. Ele o conhecia muito bem. e ele planejava como poderia apunhalá-lo durante a noite, emudecê-lo.

Quando veio o verão, e o vento frio parou de soprar e as folhar pararam de tremer, ele ainda estava deitado no chão do quarto. O grito ainda ecoava por toda a casa.

O mundo não permitira, simplesmente não permitira, que o grito morresse.

E agora? – pensava ele - E agora, Ana?

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