28 de setembro de 2015

macondo 1



O rio de janeiro queima debaixo do sol de marte.  Enfurnada no corpo a alma escapa, no suor, e toma o longo e lindo espaço vasto do verão.Onde moram tardes sexuais nos lagos envolvidos nas areias finas.Meu mapa não revela a localização do desejo , sem coordenadas, me estiro na sombra para mais um cochilo. Sonho México e Frida Caloh. Tucanos e mosquitos. Verde musgo, lesma e ervas daninhas, o leito de um rio com jacarés, o medo do escuro morno. Tudo isso de uma só vez. Ampola noite de verão, que se antecipa. Arrasta todas as dores – os sentimentos evaporados negam palavra de ordem. Cinética poesia do caos. Escorro saliva no pescoço, dos beijos lascivos, as peles grudando lençóis, as estrelas contra céu da tarde, ave Maria nos sinos desta velha cidade nova. Há em todo canto um pedaço de ontem, do ano de ontem, do século de ontem. Longas horas de historia na memória, imagens gravuradas nas paredes de dentro da carne. Hoje não há refugio, é primavera escarlate, ipê vermelho germinando um raio de metros extenso, a fertilização selvagem, naturais germinações imorais. tudo trepa. Tudo goza. Tudo sente no corpo a falta do que ainda não veio. Doçura pesada essa do tempo. Cavalgando sem sela na vida, pelo pasto insolação. Eu tinha um compromisso comigo mesma até que me esqueci que eu existia. Ninguém cobra. Sou anciã quase sem corpo. Vivo nos espaços, solta. As vezes pouso. Devo acreditar nesta santidade do não eu. Nunca tive um nome. Aqui dentro eu surfo nas ondulações milimétricas de tudo o que há. Não quero perder nem mais um segundo tentando falar disso com você. 

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