6 de junho de 2020

Telegrama chinês

Hoje mesmo
vivi um verão inteiro
Talvez amanhã acorde em 2016
Quem sabe
Enquanto calculo meu ciclo
mancho os lençois
a lua se esconde
Meus gatos agora devem estar dormindo na janela
sob o sol carioca das duas da tarde
Lembro quando o canino esquerdo do mais velho caiu
Ele ainda nem morreu e eu já tenho tantas saudades
Aqui, 1:11 da manhã
Peço nescau gelado no serviço de quarto
Amanhã trabalho cedo, no palco, que é meu lugar favorito (depois das florestas e dos buracos dentro das cachoeiras)
De manhã cruzo com crianças chinesas de mochilas e franjas
Aqui os bebês também choram
Todo o resto é diferente
Invento o conteúdo dos letreiros
Me divirto só
caindo de bicicleta em curvas acentuadas demais
em estradas encantadas, só minhas, por 10 km
Comi ostras
coisas de dentro de conchas
algas e transparências estranhas
Fecho os olhos e não me lembro onde mesmo estou
Havia sonhado com paisagens tão antigas
Com toques que já não existem mais
Depois meditei sobre Saturno e pedi para que ele fosse sempre gentil comigo
Sei que não é de sua natureza
Mas não custa tentar

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