15 de novembro de 2006
The Killing Moon
So soon you'll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine
Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him
In starlit nights I saw you
So cruelly you kissed me
Your lips a magic world
Your sky all hung with jewels
The killing moon
Will come too soon
Under blue moon I saw you
So soon you'll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine
11 de novembro de 2006
“Você... quer ouvir a descrição da morte? A evacuação da alma.... será como uma tosse?”
Meus nervos nunca estiveram tão inchados e meu corpo nunca esteve tão imóvel. Uma bomba irá explodir na boca do meu estomago a qualquer minuto: é melhor travar os lábios para não cuspir fogo. Consigo sentir o calor, fruto do trabalho das minhas infinitas células para me manter vivo apenas para amar aquela criatura por todos esses longos anos, escapando por todos os meus poros de uma só vez.
Eu olho bem no fundo desses olhos incertos de si mesmos. Eu olho o corpo indócil que por muitas vezes me fez suspirar profundamente quando em sua presença e rastejar de agonia no caso raro de sua ausência, que viciou minhas mãos e hábitos e pensamento, que me escravizou.
Eu olho os seios ofegantes do cansaço e da euforia daquelas ultimas horas de ruína, como se nunca os tivesse visto, como se já não me fossem íntimos, como uma aparição divina.
Era o ultimo suspiro ante a morte pontual e irremediável, o ultimo segundo, o susto, um bocado de ar preso no pulmão imóvel depois da inalação repentina da verdade. Era o espanto dividindo as bocas nunca dantes desunidas, mas eu ainda assim consigo sentir o cheiro de seu hálito: docemente irresistível, estranhamente familiar, como a sombra da sua vida abandonada com profundo desapego na ultima esquina depois da descoberta da própria mediocridade e infinita beleza estética.
Eu me viro e caminho até a porta. Eu não olho pra trás.
Eu teria dito algo ofensivo, ou feito qualquer coisa que a marcaria a memória e a faria chorar de arrependimento no dia de sua morte, que não contaria a ninguém por pura vergonha de ter um dia visto tal atrocidade e, por isso, não ser mais um ser limpo, como gostava de se vender. Eu teria cortado sua garganta e arrancado suas unhas uma a uma. Eu teria dito: eu nunca gostei do seu cheiro... Mas na frente de tudo isso pairava uma certeza de que nada precisa ser dito, de que isso, por si só, já é o ponto final que reúne nele a essência de toda a longa frase dispensável que o precede, ou seja, a vida.
Eu deixo a chave do lado de dentro. Eu saio. Eu deixo a porta aberta, talvez na esperança de qualquer desses psicopatas criados pelo mundo moderno encontrar naquele quarto e a naquele corpo a possibilidade de liberar todas as suas angustias doentias e sufocadas pela televisão e promover orgias de sangue e dor, fazendo tudo parecer justo.
Mas o espelho não foi quebrado. E meu peito ainda arde em fogo.
Até que eu tire essa vida fácil das minhas veias.
Quando eu chegar a 10, feche os olhos.
18 de outubro de 2006
O filho bastardo do filho bastardo do Sol
O filho bastardo do filho bastardo do sol tem olhos pálidos e doces, anda descalço e tem calças curtas. Seu oficio é dirigir uma maquina triste, que bem... ainda não sei bem do que se trata. Brinca na lama nos tempos vagos e gosta de traçar rostos risonhos e de olhares profundos no chão de barro esfarelado. Ele aponta e diz: esse é o seu pai, e aquela mais adiante, que tem uma corda no pescoço é a sua mãe.
O filho bastardo do filho bastardo do sol tem bochechas rosadas e boca rasgada. É o tipo de criança que nunca chorou e não viu nunca lagrimas, mas carrega uma margarida despedaçada no peito frágil e gosta de olhar a lua nascer enquanto finge dormir. Pra ser mais exato, é o tipo de menino que não dorme. Seus olhos não deixam que qualquer centelha do mundo não o comova profundamente e em silencio ele grita.
Seus pés tocam no chão como a um veludo macio e ele come minhocas como eu como lagostas. Antes de colocá-las delicadamente na língua, ele as observa, anel por anel, e então efetua o ato na maior devoção divina.
Mas o filho bastardo do sol do filho bastardo do sol dirige a maquina triste. A maquina triste faz um barulho alto, mas segundo ele, ninguém mais escuta a não ser ele mesmo. E eu fico pensando que deve ser duro ser o único a ouvir um barulho, qualquer que seja, de sinos ou trovoes.
Ele olhou pra mim e perguntou:
-você está ouvindo?
E sem que eu dissesse uma só palavra, o menino se virou e andou para longe. Ele sabia que eu nada ouvia e que, a menos que minha mente- desesperada para compartilhar da experiência- começasse a criar ilusões.
Eu olhei alto para as estrelas hoje. Gigantes como baleias, gigantes. Brancas, como margaridas despedaçadas. E eu pensei na maquina triste. Olhar pras pessoas lá embaixo, como formigas. Sentir no rosto o vento gélido que congela e eleva, voar, enfim. Porque não voa?
Pessoas como formigas correm ligeiras para enfiarem suas cabeças no travesseiro e deixarem de ouvir o barulho da maquina triste, certamente. Eu no alto, pensando: porque não voam?
Trinta mil anjos no ar. Olhares distantes, corpos pequenos quase invisíveis, dançam na chuva muito muito fria, gargalham baixinho, existem, enfim, certamente existem.
Nessa terra das estrelas cadentes, como meteoros fogosos e sinceros, o rio corre ao contrario, o lago seca, os peixes dourados morrem. Mas tudo é tão lindo, tão lindo. Eu queria saber dos corações partidos. Achei um na calçada da minha casa hoje de manha. E eu queria saber da neblina da madrugada, densa e nobre, e pesada. E eu queria saber das expectativas frustradas, e dos encontros perdidos. Nessa terra dos laços prateados e do ar de canela, ouvimos o indizível, procuramos o não encontrável. Nossas esperanças nascem e retornam para as cinzas, num fluxo inatingível por qualquer carne, por qualquer corpo, ou em qualquer dor. E todos nós, dia a dia, nascemos e morremos em divina compreensão de qualquer partícula que exista e que flutue como penas de chumbo sobre nossas cabeças. Operários do castelo de vidro, nunca quebrado, mas ainda que inteiro, cortante de pulsos brancos e também dos negros, porque não?! Mas tudo é tão lindo, tão lindo, que choramos e morremos em profunda devoção a qualquer copo que se estilhasse feiamente no chão. Em compreensão, amor e compaixão, por qualquer caco e por qualquer desenho inacabado, um suspiro dado, uma vida, que seja, uma vida, porque não?!
30 de setembro de 2006
A carne e a Navalha enferrujada
Uma mariposa de mil asas bate em todas as paredes manchadas antes de cair dentro de uma poça de água, irremediavelmente tonta, e afogar-se.
Seu corpo quase oco se debate por longos minutos até sucumbir ao fim. As mil asas abertas, feito Jesus cristo crucificado. Mariposa cega. Morreu sem mais. A mariposa está morta, bóia.
Os infinitos feixes de luz que a sugavam agora se apagaram em completa escuridão de consciência. Mariposa agora está livre! Posso sentir sua alma em todos os lugares, pulsante, viva, de mil asas.
É que na verdade, quando em vida e em vôo- e biologicamente- a mariposa batia só umas seis asas, mas quem vê com atenção mariposa voando, com essa áurea iluminada, jura que mariposa tem mais asas do que essas. É que as outras estão dentro do corpo oco, oco de carne, mas cheio de asas. Entende?
Mariposa de mil asas. Coisa que nenhum cientista pode entender. Ele dissecaria o corpo oco, com suas laminas frias, e se lá não visse mais asa nenhuma, anotaria: mariposa de seis asas. Não entende, o pobre homem, que não se disseca corpo de mariposa morta? É uma flor aberta aos desejos, delicada e pura, de mil pétalas! Como pôde? Enfiar seu olhar metálico, camada a camada, até descobrir o nada! Naquele corpo tão santo, tão deus, tão cru! Então, depois de cometer tal heresia, em tom de verdade consagrada, vai o homem e anota: mariposa de seis asas.
Em sua tontura alucinada, cores e formas se misturaram e formaram borrões indescritíveis, cheiro de tudo que não tem cheiro, cheiro de morte, cheiro de adeus, cheiro de fim de ano. Mariposa, em sua loucura lúcida viu tudo, e depois morreu, e boiou. Livres, suas mil asas estremecem os ventos do meu peito! Fazem soprar as nuvens de todos os lugares do mundo! Mil asas em cada isto. Mil asas em cada tudo.
Olhai para o céu e procurai as mil asas. Olhai para os olhos de todos: mil asas! Mas quando se olha assim, sem atenção, dizemos: corpo de seis asas. E mesmo se abrirmos todas as carnes macias, à navalha fria de nossos olhares, ainda diremos: corpo de seis asas. No entanto, olhai a mariposa morta, cega, oca, e percebei sem qualquer intermédio da visão: mariposa de mil asas! E com atenção, em euforia da descoberta de amor e paixão ardente, apontai para todos os corpos do mundo e dizei, entre soluços e lágrimas: corpos de mil asas!
Até o pobre cientista, e sua navalha enferrujada, e todas as coisas frias e fracas do mundo: mil asas.
Mariposa está aqui, debaixo dos meus cabelos, enjaulada entre meus dedos! Muitas mariposas de mil asas dentro do meu peito! Mariposas saem por meus olhos e pela minha boca - abertos de espanto, escancarados, como buracos negros! Elas voam enlouquecidas, batem nas paredes e morrem afogadas de loucura e água, como eu.
E nesse vôo breve, que urra em cada peito e logo morre, é triste não poder evitar o fato de que serão abertas, de que serão dissecadas, todas, e serão anotadas à caneta fina: seis asas.
27 de setembro de 2006
B.A.B.A.C.A
BABACA,
Desça do ônibus e caminhe por essas ruas passadas. E não venha se debulhar em magoas, como uma velha infeliz, seria ridículo e imperdoável.
Coçou o nariz e prossegui no passo rápido. As mãos viciadas levavam os dedos inquietos aos cabelos crespos e ahhh, chega de adjetivos rasos. Já percebeu que não levam a nada. Perceba, que essa mansidão bovina te indica apenas o caminho falho. Ele quer o erro. Ele quer o câncer. Ele quer o que já teve e perdeu, pois em algum momento de fraqueza pensou em prudência e por ela se cegou. Ele sente falta do agora. E olha para as latas amassadas e os restos da comida dos empresários do meio dia no meio da rua e sabe, interiormente sabe, que aquela é a sua sujeira e se apropria dela, e tem vontade de pôr tudo na boca e mastigar e engolir, sentindo o gosto da verdade.
Era noite de coleta de lixo... os sacos pretos rasgados cobriam a encosta das ruas. Os olhos-farois das pessoas que passavam apressadas pra nada faziam questão de fechar. Mas ele via. Obsessão contida. Ele pensava que gostava daquelas baratas. Pelo menos não contavam mentiras. Elas são tudo que ele não podia ser. Elas são, para ele, a imagem de Buda.
Ele também queria ter casca, e ser feio, e morar no escuro, e comer a podridão da humanidade. Ele queria também assustar mocinhas, e caminhar por suas coxas suadas. Ele queria também espelhar o caos. Mas ele não era uma barata. Ele era uma vaca, uma vaca indiana. Uma vaca indiana babaca.
Então ele coçou o nariz e prossegui no passo rápido com as mãos viciadas e nada mais. Rumava para o obvio, como em colégio primário, preencher as lacunas da vida fácil, dada, pronta desde sua. Já não agüentava mais o segundo seguinte. Pesava.
Não seria melhor morrer ali mesmo? Deixar tudo escorrer pelos bueiro? Aquelas horas fartas, aqueles olhos mortos? Não seria melhor deixar tudo vazar no vazio e livrar-se logo do fato?
Mas não deixava.
Mais uma persistência, a inércia fala.
Obsessão contida e silencio, para nunca mais, nunca mais saber de nada.
15 de setembro de 2006
O Óbvio
Nesse momento de desordem, quando não se sabe nem ao menos pôr pé ante pé, as possibilidades são múltiplas e acabamos ficando perdidos no nosso próprio mundo de contemplação. Tudo se eleva e se faz real, um futuro possível, um presente vivo: o passo, a queda, o regresso ou a amputação voluntária das pernas. É tudo que poderíamos querer, é tudo que temos, momentos de desordem. Ardem no peito e varrem o mundo, as construções do centro da cidade estremecem e temos a impressão na pele de que, se nos fosse conveniente, derrubaríamos bastilhas. É tão obvio que nem atentamos pra isso. Passa desapercebido, como um passarinho machucado debaixo de uma arvore dançante, de galhos enfurecidos, de uivos de dor e miséria.
Foi em um desses momentos que então... o que houve? Foi em um desses momentos que, de repente, de corpos prostrados e imóveis... que, um dia, tivemos uma Idea:
“ e se engravatássemos porcos? E se leiloarmos as horas? E se fecharmos os olhos?” e ela se apossou dos nossos espíritos. Ficamos então com essas caras que conhecemos, de sonhadores da devassidão, de pervertidos pela vida. Nesse teatro desértico que se transformou as nossas vidas, as bocas gostavam de falar alto e de comer bastante gordura, os prazeres pulavam nos colos e incendiavam almas, tudo ardia, tudo deixava um cheiro acre no ar, toda a fuligem do submundo subira.
Os músicos todos resolveram fazer barulho: “ escuta! Escuta, meu filho, são os tambores de guerra.” E ele nunca mais saiu de casa. Ficou com medo da imagem grotesca que tinha construído de porcos engravatados errantes e dissimulados, que dentro de suas pastas de couro preto carregam uma foice para cortar a cabeça das crianças. As palavras ecoam na mente perturbada do garoto que mais tarde foi precisar de tratamento medico pois estava com anemia: não comia pois julgava que tudo era lixo, que viria perverter seu corpo de criança e sua inocência quanto a morte. “escuta, meu filho, são tambores de guerra.” E ele ouvia. Tum tum tum tum tum... e por aí ia... até a noite escura, quando o som se diluía nos sonhos de contos de fadas: belas meninas vinham desposar-lhe, e ele, sentado em seu trono real, negava migalhas às pessoas sujas que ficavam a porta de sua casa de ouro. Ele era o rei e cheirava a lavanda. O que pouco sabia é que, enquanto dormir, sua cara ensebada e seu ronco rudimentar o fazia assemelhar-se bastante com os suínos. Eu bem que tinha reparado! Pele rosada não pode enganar.
O pobre garoto não fazia nada. Apenas sonhava com seus dias de gloria em terras de paz e se mantinha limpo da sujeira do mundo. Não punha um dedo fora de casa desde que a guerra havia começado e era protegido pela moral burguesa típica - mas isso ele nem sabia pronunciar. “burguês? O que é burguês? Eles matam crianças como os porcos ou eles são mortos lá fora? São os burgueses que tocam os tambores? Ai que horror meu deus, os tambores!” e logo se esquecia daquelas esquisitices que em momentos de fraqueza entravam na sua pequena cabeça cheia de borboletas amarelas.
Ele não era deus.
Ele não era deus.
Tinha de saber isso. Tinha de saber que ele era um porco e que roncava de noite.
Mas ele nunca soube.
E ele morreu limpo.
8 de setembro de 2006
o mundo te espera sedento lá fora. e aqui dentro? mais de um milhao de vezes olhei nos teus olhos e eles pulsavam como laranjas loucas, transpirantes. mais de um milhao de vezes eu nao soube bem o que fazer. mais de um milhao de vezes eu sonhei com o dia que nao existesse mais um milhao de vezes.
todos se desfazem como bolhas coloridas e finas. que confusao, pensei. que confusao.
se tem algo que realmente quero agora é estar naquela sala escura, sem qualquer luz que me fizesse julgar as sombras, nos teus braços. nos teus braços. em completo silencio mental, em extase, em paz. nos teus braços. sem mais um milhao de vezes, sem questoes.
pode uma mente tao pobre prever se nao o obvio? o futuro me parece uma boneca de porcelana rouca. os anjos nao voam tao facilmente, querido, eles precisam de ameaças. por isso é bom manter sempre um revolver debaixo do travesseiro, para as noites insones, para as criancas rebeldes, para o lua que insiste em estar longe, tao longe.
mas nao vou me precipitar... reparei bem no garoto de pupilas dilatadas e maos ageis e vi, infelizmente eu vi, que nem ele pôde se livrar de si mesmo. que miseria, pensei, que miseria.
colapso moral.