16 de julho de 2010

De saber o quê importa, o quê fica, sempre. O encontro. um momento. que se estiiiiiica. Quando se fecha os olhos. do fundo da alma. o vazio, dentro dele, uma única coisa. uma fumaça, de infinitos significados.
Você me diz coisas ruins. eu acredito em todas elas. eu acredito, em tudo que você me fala, eu acredito. mas, se realmente fosse assim, se realmente fosse, então eu não poderia dizer isso. eu não poderia, por nao saber, nao ter podido experimentar, por haver uma certa falta de grandeza. essa piquinez que voce me fala. que eu acredito quando voce me fala. ela nao existe.
eu nao quero que acredite. quando cessa essa mínima prudencia e tem a angustia. mesmo assim eu nao quero.
deve-se retirar-se. deve-se calar-se. deve-se acatar, uma impressão de derrota, que nao existe, uma sensação muito ruim de tudo ruim que me fala.
só que naquela fumaça, nada disso importa. a chuva está caindo feito prego, coisas evidenciando os ciclos, e essa linha infinita, que vai de mim até você até o mais profundo futuro das nossas almas. ela está lá em cima e por isso ela não vê tudo isso que nao existe, que voce vê, que eu vejo, que voce me fala. a piquinez de mim, é invisível do alto. e eu só quero saber do que está no alto. a linha, que voce não vê, que não existe, que voce nao me fala. que eu vejo, que acredito, que penso e sinto. ela está esticada, do infinito ao infinito. tensionada. eu ando sobre ela. e eu caio todos os dias, há anos. caio para debaixo dos meus pés, e acredita você que também debaixo dos seus. caio até o infinito pra baixo, e quando vejo, estou lá novamente, como um presente da força benevolente do universo, ou um grande castigo do vazio.
nessa imensidão oca, eu sinto a minha respiração, pequena e miserável, como você me diz, e também sinto a sua, que se parece assim muito com a minha. ás vezes eu posso olhá-lo de frente.

14 de julho de 2010

Horrowshow é a palavra certa.

4 de julho de 2010

Não quero, não quero não quero não quero não quero não quero não quero não quero naquero naoquero não quero não quero não queronao quero não quero não quero não quero não qquero não quero não quero não quero não quero não quero
E então talvez eu possa
Calar.
Recuar.
Humilhar-me. Voltar para nada, mas longe, longe antes desse momento. Descansar.
Um prédio caiu. Alguém morre.
eu morro. Nós daqui de dentro de mim. De algum lugar devastado
cair. Lá no infinito debaixo dos pés. Cento e oitenta graus, assim o mundo virou. Oitenta acavalos marrados no corpo e dispara o tiro.

Eleva-se neste segundo. Como rezando por um cadáver. Ser tomado por trás dos olhos. Como se a coluna derretesse, derrete. Moendo carne com uma batedeira. Nada mais dolorido. Que isso.

16 de junho de 2010

Toma o livro nas mãos. Em volta, o azulado cobrindo seus ombros, como um manto, e todo o horizonte de edifícios. E o vento às vezes assobia.
Ali, naquele momento, há apenas um de si. Você. E isso se sente. Essa vibração azulada de tudo também o anestesia. É como se pudesse encostar docemente a cabeça na poltrona e ali ficar para sempre, para mais tarde acordar e passear ao redor, sem sair muito do lugar.
O livro nas mãos, suspensos na altura dos olhos. Vai falar algo bem grande e interessante. Coisas que as pessoas antigas pensaram muito antes de hoje, uma descoberta íntima de um desconhecido. Como ir para outro tempo. Viajar para o seu próprio futuro.

11 de junho de 2010

EU QUERO QUE TODO MUNDO NESTA PORRA VÁ SE FUDER!!!!
O TEATRO ESTÁ MOORTO. ESTÁ MORTO. ESTÁ MORTO E PODRE!!!!

31 de maio de 2010

tudo um monte de merda

18 de maio de 2010

A doença da morte

«Deverias não a conhecer e tê-la encontrado por toda a parte ao mesmo tempo, num hotel, numa rua, num comboio, num bar, num livro, num filme, dentro de ti, em ti, ao acaso do teu sexo erguido na noite que procura um lugar onde se meter, onde se libertar do choro que o enche.
(...)
Às vezes andas no quarto à volta da ama ou ao longo das paredes ao lado do mar.
Às vezes choras.
Às vezes sais para o terraço ao frio que começa.
Não sabes o que contém o sono daquela que está na cama.
Tu, daquele corpo, querias partir, querias voltar a outros corpos, ao teu corpo, voltar a ti mesmo e ao mesmo tempo é por teres de fazer isso que choras.
(...)
Acorda. Olha para ti. Diz: A doença avança cada vez mais em si, está nos seus olhos, na sua boca.
Tu perguntas: Que doença?
Ela diz que ainda não sabe dizer.
(...)
Ela estaria sempre pronta, com ou sem vontade. Precisamente sobre esse ponto nunca poderias saber nada. Ela é mais misteriosa do que todas as evidências exteriores que até ali conheceste.
Também nunca poderás saber nada, nem tu nem ninguém, nunca, do modo como ela vê, como ela pensa sobre o mundo e sobre ti, o teu corpo e o teu espírito, e essa doença que na opinião dela te atingiu.
(...)

Vais acordá-la. Perguntas-lhe se é uma prostituta. Ela faz sinal que não.
Perguntas-lhe porque aceitou o contrato das noites pagas.
Ela responde com uma voz ainda adormecida, quase inaudível: Porque logo que me falou, vi que estava doente, com doença da morte. Durante os primeiros dias eu não fui capaz de dar um nome a essa doença. E depois fui capaz.
(...)

Perguntas-lhe: A doença da morte é mortal em quê? Ela responde: É nisto de quem está doente não saber que a transporta em si, à morte. E também nisto de se vir a morrer sem uma vida prévia de que morrer, sem conhecimento algum de morrer de nenhuma vida.
(...)


Regressas ao terraço em frente ao mar negro.
Há em ti soluços e não sabes porquê. Estão suspensos de ti como se te fossem exteriores, não podem juntar-se a ti para que os chores. Face ao mar negro, encostado à parede do quarto onde ela dorme, choras por ti como o faria um desconhecido.
(...)

Descobres que é ali, dentro dela, que se fomenta a doença da morte, que é essa forma perante ti estendida que decreta a doença da morte.
(...)

Tu choras.

O choro acorda-a. Olha para ti. Olha para o quarto. E olha novamente para ti. Acaricia-te a mão. Pergunta: Porque é que chora? Tu dizes que ela é que tem de dizer porque é que choras, que ela é que deveria sabê-lo.
Ela responde muito baixo, docemente: Porque não ama. Tu respondes que é isso.
Ela pede-te que lhe digas isso claramente.
Dizes: u não amo.
Ela diz: Nunca?
Tu dizes: Nunca.
Ela diz: O desejo de estar quase a matar um amante, de o guardar para si, para si apenas, de se apoderar dele, de o roubar contra todas as leis, contra todos os impérios da moral, não conhece esse desejo, nunca conheceu?
Dizes: Nunca.
Olha para ti, repete: É curioso, um morto.
(...)

Um dia ela já ali não está. Acordas e ela já ali não está. Partiu de noite. A marca do corpo ainda está nos lençóis, está fria. (...)
Não há mais nada no quarto, só tu. O corpo dela desapareceu. A diferença entre tu e ela confirma-se pela sua repentina ausência.
Ao longe, nas praias, gaivotas gritariam na escuridão a acabar, começariam já a alimentar-se do vermes do lodo a remexer nas areias que a maré baixa abandonou. No escuro, o grito louco das gaivotas esfomeadas, parece-te de repente que nunca o ouviste.


Ela não voltaria nunca.
Nessa noite em que partiu, num bar, contas a história. Primeiro como se fosse possível Fazê-lo, e depois desistes.
(...)

Quando choraste, foi só por ti e não pela admirável impossibilidade de te juntares a ela através da diferença que vos separa.

De toda a história reténs apenas determinadas palavras que ela disse no sono, essas palavras dizem aquilo que te atingiu: Doença da morte.
Depressa desistes, deixas de a procurar, nem na cidade, bem na noite, nem no dia.
No entanto, assim pudeste viver este amor da única maneira possível para ti, perdendo-o antes que acontecesse.»