31 de maio de 2010
18 de maio de 2010
A doença da morte
«Deverias não a conhecer e tê-la encontrado por toda a parte ao mesmo tempo, num hotel, numa rua, num comboio, num bar, num livro, num filme, dentro de ti, em ti, ao acaso do teu sexo erguido na noite que procura um lugar onde se meter, onde se libertar do choro que o enche.
(...)
Às vezes andas no quarto à volta da ama ou ao longo das paredes ao lado do mar.
Às vezes choras.
Às vezes sais para o terraço ao frio que começa.
Não sabes o que contém o sono daquela que está na cama.
Tu, daquele corpo, querias partir, querias voltar a outros corpos, ao teu corpo, voltar a ti mesmo e ao mesmo tempo é por teres de fazer isso que choras.
(...)
Acorda. Olha para ti. Diz: A doença avança cada vez mais em si, está nos seus olhos, na sua boca.
Tu perguntas: Que doença?
Ela diz que ainda não sabe dizer.
(...)
Ela estaria sempre pronta, com ou sem vontade. Precisamente sobre esse ponto nunca poderias saber nada. Ela é mais misteriosa do que todas as evidências exteriores que até ali conheceste.
Também nunca poderás saber nada, nem tu nem ninguém, nunca, do modo como ela vê, como ela pensa sobre o mundo e sobre ti, o teu corpo e o teu espírito, e essa doença que na opinião dela te atingiu.
(...)
Vais acordá-la. Perguntas-lhe se é uma prostituta. Ela faz sinal que não.
Perguntas-lhe porque aceitou o contrato das noites pagas.
Ela responde com uma voz ainda adormecida, quase inaudível: Porque logo que me falou, vi que estava doente, com doença da morte. Durante os primeiros dias eu não fui capaz de dar um nome a essa doença. E depois fui capaz.
(...)
Perguntas-lhe: A doença da morte é mortal em quê? Ela responde: É nisto de quem está doente não saber que a transporta em si, à morte. E também nisto de se vir a morrer sem uma vida prévia de que morrer, sem conhecimento algum de morrer de nenhuma vida.
(...)
Regressas ao terraço em frente ao mar negro.
Há em ti soluços e não sabes porquê. Estão suspensos de ti como se te fossem exteriores, não podem juntar-se a ti para que os chores. Face ao mar negro, encostado à parede do quarto onde ela dorme, choras por ti como o faria um desconhecido.
(...)
Descobres que é ali, dentro dela, que se fomenta a doença da morte, que é essa forma perante ti estendida que decreta a doença da morte.
(...)
Tu choras.
O choro acorda-a. Olha para ti. Olha para o quarto. E olha novamente para ti. Acaricia-te a mão. Pergunta: Porque é que chora? Tu dizes que ela é que tem de dizer porque é que choras, que ela é que deveria sabê-lo.
Ela responde muito baixo, docemente: Porque não ama. Tu respondes que é isso.
Ela pede-te que lhe digas isso claramente.
Dizes: u não amo.
Ela diz: Nunca?
Tu dizes: Nunca.
Ela diz: O desejo de estar quase a matar um amante, de o guardar para si, para si apenas, de se apoderar dele, de o roubar contra todas as leis, contra todos os impérios da moral, não conhece esse desejo, nunca conheceu?
Dizes: Nunca.
Olha para ti, repete: É curioso, um morto.
(...)
Um dia ela já ali não está. Acordas e ela já ali não está. Partiu de noite. A marca do corpo ainda está nos lençóis, está fria. (...)
Não há mais nada no quarto, só tu. O corpo dela desapareceu. A diferença entre tu e ela confirma-se pela sua repentina ausência.
Ao longe, nas praias, gaivotas gritariam na escuridão a acabar, começariam já a alimentar-se do vermes do lodo a remexer nas areias que a maré baixa abandonou. No escuro, o grito louco das gaivotas esfomeadas, parece-te de repente que nunca o ouviste.
Ela não voltaria nunca.
Nessa noite em que partiu, num bar, contas a história. Primeiro como se fosse possível Fazê-lo, e depois desistes.
(...)
Quando choraste, foi só por ti e não pela admirável impossibilidade de te juntares a ela através da diferença que vos separa.
De toda a história reténs apenas determinadas palavras que ela disse no sono, essas palavras dizem aquilo que te atingiu: Doença da morte.
Depressa desistes, deixas de a procurar, nem na cidade, bem na noite, nem no dia.
No entanto, assim pudeste viver este amor da única maneira possível para ti, perdendo-o antes que acontecesse.»
«Deverias não a conhecer e tê-la encontrado por toda a parte ao mesmo tempo, num hotel, numa rua, num comboio, num bar, num livro, num filme, dentro de ti, em ti, ao acaso do teu sexo erguido na noite que procura um lugar onde se meter, onde se libertar do choro que o enche.
(...)
Às vezes andas no quarto à volta da ama ou ao longo das paredes ao lado do mar.
Às vezes choras.
Às vezes sais para o terraço ao frio que começa.
Não sabes o que contém o sono daquela que está na cama.
Tu, daquele corpo, querias partir, querias voltar a outros corpos, ao teu corpo, voltar a ti mesmo e ao mesmo tempo é por teres de fazer isso que choras.
(...)
Acorda. Olha para ti. Diz: A doença avança cada vez mais em si, está nos seus olhos, na sua boca.
Tu perguntas: Que doença?
Ela diz que ainda não sabe dizer.
(...)
Ela estaria sempre pronta, com ou sem vontade. Precisamente sobre esse ponto nunca poderias saber nada. Ela é mais misteriosa do que todas as evidências exteriores que até ali conheceste.
Também nunca poderás saber nada, nem tu nem ninguém, nunca, do modo como ela vê, como ela pensa sobre o mundo e sobre ti, o teu corpo e o teu espírito, e essa doença que na opinião dela te atingiu.
(...)
Vais acordá-la. Perguntas-lhe se é uma prostituta. Ela faz sinal que não.
Perguntas-lhe porque aceitou o contrato das noites pagas.
Ela responde com uma voz ainda adormecida, quase inaudível: Porque logo que me falou, vi que estava doente, com doença da morte. Durante os primeiros dias eu não fui capaz de dar um nome a essa doença. E depois fui capaz.
(...)
Perguntas-lhe: A doença da morte é mortal em quê? Ela responde: É nisto de quem está doente não saber que a transporta em si, à morte. E também nisto de se vir a morrer sem uma vida prévia de que morrer, sem conhecimento algum de morrer de nenhuma vida.
(...)
Regressas ao terraço em frente ao mar negro.
Há em ti soluços e não sabes porquê. Estão suspensos de ti como se te fossem exteriores, não podem juntar-se a ti para que os chores. Face ao mar negro, encostado à parede do quarto onde ela dorme, choras por ti como o faria um desconhecido.
(...)
Descobres que é ali, dentro dela, que se fomenta a doença da morte, que é essa forma perante ti estendida que decreta a doença da morte.
(...)
Tu choras.
O choro acorda-a. Olha para ti. Olha para o quarto. E olha novamente para ti. Acaricia-te a mão. Pergunta: Porque é que chora? Tu dizes que ela é que tem de dizer porque é que choras, que ela é que deveria sabê-lo.
Ela responde muito baixo, docemente: Porque não ama. Tu respondes que é isso.
Ela pede-te que lhe digas isso claramente.
Dizes: u não amo.
Ela diz: Nunca?
Tu dizes: Nunca.
Ela diz: O desejo de estar quase a matar um amante, de o guardar para si, para si apenas, de se apoderar dele, de o roubar contra todas as leis, contra todos os impérios da moral, não conhece esse desejo, nunca conheceu?
Dizes: Nunca.
Olha para ti, repete: É curioso, um morto.
(...)
Um dia ela já ali não está. Acordas e ela já ali não está. Partiu de noite. A marca do corpo ainda está nos lençóis, está fria. (...)
Não há mais nada no quarto, só tu. O corpo dela desapareceu. A diferença entre tu e ela confirma-se pela sua repentina ausência.
Ao longe, nas praias, gaivotas gritariam na escuridão a acabar, começariam já a alimentar-se do vermes do lodo a remexer nas areias que a maré baixa abandonou. No escuro, o grito louco das gaivotas esfomeadas, parece-te de repente que nunca o ouviste.
Ela não voltaria nunca.
Nessa noite em que partiu, num bar, contas a história. Primeiro como se fosse possível Fazê-lo, e depois desistes.
(...)
Quando choraste, foi só por ti e não pela admirável impossibilidade de te juntares a ela através da diferença que vos separa.
De toda a história reténs apenas determinadas palavras que ela disse no sono, essas palavras dizem aquilo que te atingiu: Doença da morte.
Depressa desistes, deixas de a procurar, nem na cidade, bem na noite, nem no dia.
No entanto, assim pudeste viver este amor da única maneira possível para ti, perdendo-o antes que acontecesse.»
17 de maio de 2010
16 de maio de 2010
Um dia não precisaremos mais de palavras. Um canal vai se abrir nas nossas costas, na altura do peito, e de lá vamos ouvir tudo. e responder.
Ou a gente pode cantar uma música, com a boca das costas. Vibrando. Uns detalhes agudos aqui e ali que dão sensação de infinito, reverberando no oceano todo. Um mar profundo, extenso, não havendo nada que não o pertença ou que lhe falte. Onde os olhos de um homem podem se perder para sempre, abertos, num descançar infinito e absoluto de observação prazerosa. E é bem no meio desse frio pleno, estático como grandes monumentos são estáticos através dos anos, estático como permanecer por escolha em um devido lugar, e lá estar. é aí que nasce, no peito e nas costas desse homem, uma abertura vermelha. pulsante.
Ou a gente pode cantar uma música, com a boca das costas. Vibrando. Uns detalhes agudos aqui e ali que dão sensação de infinito, reverberando no oceano todo. Um mar profundo, extenso, não havendo nada que não o pertença ou que lhe falte. Onde os olhos de um homem podem se perder para sempre, abertos, num descançar infinito e absoluto de observação prazerosa. E é bem no meio desse frio pleno, estático como grandes monumentos são estáticos através dos anos, estático como permanecer por escolha em um devido lugar, e lá estar. é aí que nasce, no peito e nas costas desse homem, uma abertura vermelha. pulsante.
8 de maio de 2010
Vamos falar. É muito gostoso falar alguma coisa. Qualquer coisa, principalmente aquelas coisas que grudam direitinho no seu contorno externo. Tipo quando você cospe alguma coisa. Grudenta. Que estala num clerk bem na cara da outra pessoa e você: grudou direitinho. Porque os olhinhos da outra pessoa de repente se apagaram – tipo entrou uma tela branca por trás – e por trás do dente saiu um vento azul. E o corpo ficou vazio, tremendo por aí, andando de lá pra cá feito um brinquedinho de corda, esbarrando nas paredes e nas pessoas e não tendo noção nenhuma de si mesmo. É bom quando de fala alguma coisa que gruda direitinho no seu recorte episterno.
Bebendo água glup glup e pensando sempre a mesma coisa. Naquilo, aquilo, aquilo outro. Todos os pensamentos são como velhos familiares que você tem que ouvir reclamar pela manhã do domingo porque é dia de alguma coisa que já não importa para você e para os seus contemporâneos mas você tem que estar ali porque alguma disse que se você não estivesse isso ia querer dizer um monte de coisas, mas são todas mentira.
Grandes Mentiras: todas as verdades, até as mais verdadeiras, que você julga eternas. Essas são as maiores mentiras.
O dia passa que nem um peixe no fundo do mar. Só o peixe é de água rasa e o esse local do mar, como diz o próprio nome, é fundo. Aí não se enxerga nada, só tem sensações sibilantes que podem ser deus ou o diabo e isso você nunca vai saber.
Como se pode escolher esquecer uma coisa?
Bebendo água glup glup e pensando sempre a mesma coisa. Naquilo, aquilo, aquilo outro. Todos os pensamentos são como velhos familiares que você tem que ouvir reclamar pela manhã do domingo porque é dia de alguma coisa que já não importa para você e para os seus contemporâneos mas você tem que estar ali porque alguma disse que se você não estivesse isso ia querer dizer um monte de coisas, mas são todas mentira.
Grandes Mentiras: todas as verdades, até as mais verdadeiras, que você julga eternas. Essas são as maiores mentiras.
O dia passa que nem um peixe no fundo do mar. Só o peixe é de água rasa e o esse local do mar, como diz o próprio nome, é fundo. Aí não se enxerga nada, só tem sensações sibilantes que podem ser deus ou o diabo e isso você nunca vai saber.
Como se pode escolher esquecer uma coisa?
4 de maio de 2010
Sim, era pra dar. Tinha você e eu e o tempo passando entre nós dois. Às vezes dava agonia, preferia que não passasse, afinal, olha só o que ele faz.
Sim, eu queria que desse. Que de repente tudo mudasse, tipo acordando em outra realidade. Queria que visitássemos Jerusalém.
Eu tenho achado essas coisas bonitas.Cristo na cruzzzz, os homens gritando, e a forma com que ele estava certo e eu até poderia ser sua seguidora hoje em dia.
Éramos nós, e os seus e os meus olhos enlaçados. Nunca como antes. Mil questões que davam em nó e a gente preso ali sem conseguir dizer uma só palavra.
O teto do seu quarto tem poeira e me faz coçar os olhos. A parede do meu quarto tem você em vários lugares. Você dominou tudo, sério, aquilo tudo. E carregou. O tempo carregou. Carregou não, deixou preso, no nó. Lembra?
Queria pedir de volta o meu sono, o seu ombro e os pelos. E aquela noite horrível, queria de volta, pra guardar num lugar estranho pra sempre. Minha libido, eu queria de volta. E o nosso futuro casamento exterminado.
Tanta coisa.
Sim, eu queria dizer tanta coisa...
Sim, eu queria que desse. Que de repente tudo mudasse, tipo acordando em outra realidade. Queria que visitássemos Jerusalém.
Eu tenho achado essas coisas bonitas.Cristo na cruzzzz, os homens gritando, e a forma com que ele estava certo e eu até poderia ser sua seguidora hoje em dia.
Éramos nós, e os seus e os meus olhos enlaçados. Nunca como antes. Mil questões que davam em nó e a gente preso ali sem conseguir dizer uma só palavra.
O teto do seu quarto tem poeira e me faz coçar os olhos. A parede do meu quarto tem você em vários lugares. Você dominou tudo, sério, aquilo tudo. E carregou. O tempo carregou. Carregou não, deixou preso, no nó. Lembra?
Queria pedir de volta o meu sono, o seu ombro e os pelos. E aquela noite horrível, queria de volta, pra guardar num lugar estranho pra sempre. Minha libido, eu queria de volta. E o nosso futuro casamento exterminado.
Tanta coisa.
Sim, eu queria dizer tanta coisa...
3 de maio de 2010
cifrada
Your day breaks, your mind aches
Am C/G Fmaj7 Bb
You find that all her words of kindness linger on
C
When she no longer needs you
She wakes up, she makes up
She takes her time and doesn't feel she has to hurry
She no longer needs you
CHORUS:
Dm AM7
And in her eyes you see nothing
Dm AM7 Dm
No sign of love behind the tears
AM7
Cried for no one
Dm AM7 Dm G11 G7
A love that should have lasted years
You want her, you need her
And yet you don't believe her when she said her love is dead
You think she needs you ...CHORUS
You stay home, she goes out
She says that long ago she knew someone but now he's gone
She doesn't need him
Your day breaks, your mind aches
There will be time when all the things she said
will fill your head
you won't forget her ...CHORUS
esperando que a situação dure tão pouco quando a música;
Am C/G Fmaj7 Bb
You find that all her words of kindness linger on
C
When she no longer needs you
She wakes up, she makes up
She takes her time and doesn't feel she has to hurry
She no longer needs you
CHORUS:
Dm AM7
And in her eyes you see nothing
Dm AM7 Dm
No sign of love behind the tears
AM7
Cried for no one
Dm AM7 Dm G11 G7
A love that should have lasted years
You want her, you need her
And yet you don't believe her when she said her love is dead
You think she needs you ...CHORUS
You stay home, she goes out
She says that long ago she knew someone but now he's gone
She doesn't need him
Your day breaks, your mind aches
There will be time when all the things she said
will fill your head
you won't forget her ...CHORUS
esperando que a situação dure tão pouco quando a música;
Assinar:
Postagens (Atom)