17 de maio de 2009

leitura de um espasmo: recorte colagem.

Como um passaro que vem furando o ar.
Tem toda a vida e sua incansável fortuna rolante. Tem todos esses aspectos e tudo muda tanto de figura de uma musica para a outra. as guitarras estraçalhando os músculos. Boas e más noticias, substancias ilícitas. Lícitas. Ilícitas. E um auge colapsar industrializado. Não se esgota. É uma gota que rola na folha e cai na ponta do meu nariz. Eu respirei fundo. Tinha uma canção que vinha do outro lado do mar. A lua pela metade era eu, pela metade, como sempre. E ainda virá o amanha para ser o meu amante. Um domingo solitário ou qualquer coisa assim. Às vezes o sol se esconde atrás das musicas densas e tudo fica cinza e lento. E é bom porque é assim que eu descubro que tudo pode parar um instante para deixar você acontecer, aonde quer que você esteja e seja quem for. Porque não há nada que seja o resultado de um processo. Todas as coisas guardam todas as outras coisas e tempos em si. Eu sou seu pai, sua mãe e seu futuro.
A morte é a invenção de um neurótico. As horas são ofensivas a si mesmas quando se contam: chapeleiro maluco e lebre no cio comem relógios no lanche da tarde. Sorte não ser chapeleiro, maluco, lebre, ou estar no cio.

-Quantos anos você tem?
-A qual parte de mim você está se referindo?

(tenho as pernas dos cavalos, o tronco de uma onça, a cabeça de um bode e o coração de um Homem.)

Aquele que passa perdeu-se de suas raízes. Ele era uma arvore e em paz vivia. Mas quis andar como os outros bichos. Arrancou-se do chão. Não pode mais viver, não tem alimento, mas ele não sabe disso. Nunca saberá. Agora ele anda assim, matando o tempo entre o agora e o momento em que será liberto.

- sei lá, como assim, você é transplantado?
- não... Eu sou um transplante... Muito bem sucedido, não se preocupe.

Uma vez eu ouvi uma musica que me disse que eu deveria ir submergir no mar gelado. Então eu fechei os olhos e o fiz. E era apenas isso o meu dever no mundo.
Uma vez eu quis sumir, morrer, apagar. E eu ainda quero. E é tão importante para mim quanto viver. Podíamos nos permitir viver outras formas de existência.
Meus pés, um dia, irão se descolar do chão e eu levitarei por cima do seu corpo deitado em minha cama, balançando como em um mar calmo. E meu coração vai se iluminar e sair de mim pela minha boca, e ficará ligado ao meu corpo pelas veias, que estarão passando pela minha garganta. E ele ficará batendo e espirrando um pouco de sangue na parede do meu quarto. E eu estarei sorrindo com os meus ossos. E nada mais ficará sem lugar no mundo.

- “If the doors of perception were cleansed, everything would appear to man as it is: infinite.”

5 de maio de 2009

Chegar em casa é tão ruim quanto acordar. Tudo pinica e incomoda. O futuro é uma bola de miolo de pão, entalada na garganta. Quando ele abriu os olhos, durante uma noite confusa de sonhos e suores, e percebeu que nada iria sair dali, a não ser que dele saísse e se movesse pelo espaço uma vontade com matéria, quando ele isso percebeu... era uma bigorna que caía repetidamente no seu estomago. Era um erro, um desperdício, ele não queria viver. “a vida é isso mesmo, meu filho”, mas não era. Não para ele que gastara sua infância a sonhar com aquela vida que viria, mas que ainda estava para despertar. A adormecida, embriagada, ela nunca acordou. E com menos de 25 anos ele só quer uma conversa ligeira com o homem que varre a rua, pra saber se é isso mesmo pra pode pular fora sem remorso.
O que tinha gosto acabou, agora só tem doce de abobora para comer pro resto da vida. Ok?
Uma pedra pesava no peito. Deus o tinha feito uma promessa. Ele mentiu. Mentiu deslavadamente. Mentiu e não teve remorso. Mentiu.
Nem todos os cigarros do mundo vão calar a ânsia que esse estrago causou.
Não há nada do que se alimentar. Mesmo que os dedos comessem a formigar, e apodrecer, e a boca a tremer a querer os carinhos passados colecionados e mortos. Colocou as lembranças no museu debaixo de sua cama, onde também morriam homens e mulheres como ele mesmo. O tempo parou. Parou. O coração parou. Deixar de brincar de ser feliz não é fácil. Você primeiro tem de se olhar no espelho, nos olhos, e depois olhar pro mundo, e constatar.
. Tudo pinica e incomoda. O futuro é uma bola de miolo de pão, entalada na garganta. Você primeiro tem de se olhar no espelho, nos olhos, e depois olhar pro mundo, e constatar.

1 de maio de 2009

J

Faz menos de dois dias que você saiu por aí. Parece que estou sentada da mesma forma à meses, esperando você voltar, por qualquer motivo. Me pergunto como é que eu faço agora, que te quero e não te esqueço e cada suspiro escreve seu nome na parede branca da minha mente. Suas mãos ausentes. Onde foram? Tornozelos finos. Onde estão?

Será mesmo que perdemos o tempo que era de nós dois?
Eu não sei por que você insiste em dizer que se foi embora. Mas eu prefiro morrer a ter de agüentar a saudade que eu vou sentir de você. Vez atrás de vez, você diz que não haverá chance, que não haverá outra vez . Mas eu tenho que dizer, agora, que já te fiz feliz e que eu não posso prosseguir até que você volte pra mim.

Tenha seu tempo. Faça como queira. Aqueça as costelas e faça a barba. Vá beber com seus amigos. Jogue fora todo o lixo que acumulamos. Vá em frente. Vá em frente. Mas eu não vou te deixar. Vou fechar meus olhos e lembrar dos teus. Doces ainda. Antes das nossas ondas invadirem nossas matas. Eu vou pensar em você em cada minuto. Eu vou estar presente, com o meu nariz colado no teu, antes de você ir dormir essa noite e todas as outras. Não importa onde. Não importa se só ou acompanhado. Eu estarei lá. Aonde quer que você vá.

Estamos livres um do outro. Encontre-me (queira deus que sim), encontre-me na sua liberdade!!

Você vai ler isso e vai dizer que não. Eu sentirei um alfinete entrando na minha nuca, durante um ensaio qualquer, quando eu estiver pensando que eu gostaria de te encontrar dormindo quando chegasse em casa.

Queria contar essa historia de novo, com outras declinações.
Eu te amo, eu te amo, eu te amo. É a única coisa que eu tenho a dizer. Até eu encontrar um caminho para o nosso começo. Eu preciso fazer você ver que, de alguma forma, ainda posso te fazer feliz.

Eu ainda estou aqui.
Eu estou aqui.
E eu sou, ainda, o que você cisma em dizer que não existe mais.

26 de abril de 2009

raul seixas

Ouve o grito da moça histérica do quinto andar. Ela acha que não pode andar. Ela acha que quer morrer. Ela diz que sofre e se lamenta, mas agüenta as horas como um boi a ruminar.
E no terceiro, o hiperativo responde com as vassouradas rítmicas no carpete. Ele não está gostando de limpar a casa outra vez. Ele não está gostando do que faz. Ele pôs leite pros gatos, e depois esvaziou os potes e depois pôs mais leite pros gatos. Os gatos estavam dormindo e nem notaram. Foi construído um muro de 6 metros no meio da cidade. Seis metros de altura e um e meio de largura. Agora as pessoas pensam que não podem passar pro outro lado. Olha o muro que me impede! Olha o muro que nos divide! E todos querem martelar o concreto, mas ninguém abre mão de olhar os tijolos de tão de perto!

Essa historia está me deixando enjoada. Eu estou esvaziada. Rima com rima, nada por nada.

Termine esse post à mão, em casa.

22 de abril de 2009

ANFIGURI

A partir de agora eu me chamo outra coisa. Tenho outra pele e outro sexo. Vivo em outro lugar, eu continuo sem muito o que dizer. Porque esses minutos parecem anos. E eu estou perdendo o tempo que foi tão difícil de achar. Eu estou enchendo os copos de lagrimas - sem nenhuma tragicidade - e parece que faz tanto tempo, tanto tempo, tanto tempo.
Eu não tenho nada pra dizer. Eu não tenho nada pra dizer. Eu não tenho naaaada pra dizer.


Emoções e coisas que ela disse, vão cair e desaparecer em um lugar escuro.
Sangue escorrendo pelo buraco da fechadura do quarto dos pais. Lá fora tudo escuro. Ar gelado entra e refresca a sala de estar de dentro do meu estomago. Lembro quando imaginava lobos uivando no alto da colina na frente da casa.

O elefante no deserto anda lentamente, pausadamente, arrastando atrás de si uma concha do dobro de seu tamanho. É a sua casa. Ele não sabe que não precisa dela. Depois ele morreu de sede. Que nem eu. Eu vou morrer de sede. E virarei apenas casca. Quando um urubu vier comer minha carne morte ele ficará decepcionado ao encontrar nada. Só pele seca, e dentro dela um bilhete: “foi mal.” Sempre tive piedade nas minhas palavras.

Esperando vir alguém esperto para me mostrar o caminho.
Dean morreu, bêbado e cocainado, nas estrelas, sorrindo.

Foda-se tudo.

Foda-se.

Eu vou olhar pra televisão. “acho que essa é a solução”.

23 de março de 2009

Ela fez um café pela manhã. Choveu sobre a casa durante toda a madrugada. E o Fernando Pessoa repousado sobre a estante - servindo de superfície para as poeiras dos amanhas já incontestáveis- fitava-a de canto de olho, e sorria de ironia.

No passado pensara em morrer, mas foi um plano frustrado. Virou palhaça ou algo assim.

Suspirou como se gritasse a um amigo agora distante: -“o que vê daí? Você me vê?”, o ‘e’ se alongando pelo ar, pousando por fim numa grama úmida. Ela sentiu saudades agudas. O coração já almofadado, por precaução, parecia não responder. O sentimento ficou preso lá, se debatendo por alguns momentos. Acredito que tenha adormecido em seguida, para depois vir novamente despertar para saudar uma outra manhã cinza.

O que ontem foi um pranto hoje era só silencio. A casa respondia com seus ruídos carinhosos.

Há tempos não completava uma frase sem que antes pudesse julgá-la imoral ou terrivelmente idiota. Essas coisas acontecem com os jovens, creio. Mas é uma fase. Em breve ela poderá dizer o que for sem se repreender – o que não significa que serão frases menos imorais ou idiotas.

Mas havia algo nessa garota – Ana, seu nome- que se parecia com uma total inabilidade de fazer o que todo Homem se deve: desfrutar. Deixar a vida banhar a pele.

E lá estava ela. Suas manhãs atordoadas pelo porvir do dia que só de sua vontade dependia, mas ela nada queria.

Queria assim, para dizer às amigas que queria isso ou aquilo, afinal todos querem sem importar o quê. Mas quando estava a sós consigo, quando fechava os olhos para procurar-se, ela tremia de pavor e agonia ao ouvir apenas os ruídos da casa.

É isso que se chama solidão. Estava ela sozinha de si. Não podia contar-se no mundo. Não era dela aquele lugar ou aquele corpo. Uma estrangeira. Uma ladra. Era isso o que era, com seu café trêmulo, com a agonia do Estar. Não queria. Não queria tanto quanto uma criança não quer comer feijão com arroz.

(Eu não sei dar nome às coisas. Não sei manter contato. Não sei ser o meu caminho e outro caminho eu não quero.

O que pensa você do que digo?

Porque quando se sobe alto no avião indo para outro sentido, o coração fica amarrado na terra, e puxa o peito pra baixo, dá falta de ar. Não é mesmo mentira. E nem saudade dos outros. É medo de não se reencontrar quando descer nesse outro lugar.

Eu não encontro o caminho e assim a minha energia se acaba. Vivo pedaço de lixo no canto de algum lugar. Esquecido. Mas eu não quero.

Eu mandei a Ana ir embora. Ela está muito longe de mim agora. Talvez ela tenha roubado meu caminho, guardado ele em sua mochila azul. Ou fumado ele, dentro dos cigarros com gosto de isso e aquilo que ela botava pra dentro como bala.

Essa cleptomaníaca roubou o meu canal de comunicação comigo mesmo. Roubou minhas palavras mais sinceras, mais intimas e mais doídas. Ela tinha tudo isso na bolsa que usava quando eu a olhei bem fundo nos seus olhos e disse: “Você é um sonho, sua escrota. Você não é real. Pare de me confundir.” Ela riu. Achou graça. Riu docemente e ajeitou os cabelos para trás das orelhas. Quando pude encontrar novamente seus olhos, eu gritei: “ Vai embora. Agora.”

E ela foi.

Calçou as botas, acendeu um cigarro e soltou a baforada em direção ao teto. Eu me virei um instante para pegar as chaves da casa e quando retornei... a fumaça descia lentamente e empestava o quarto com aquele cheiro, criava uma cortina envolta das lâmpadas do lustre, e,é claro, em três segundos a porta da casa batera. A porta do inferno que se abre para as almas de passe livre e depois se fecha novamente, para o resto apodrecer lá dentro.

Eu pude imaginar ela ganhando as ruas com suas longas pernas, passos largos e retos que dissimulam sua total falta de noção do caminho a seguir.)

Ana não queria comer feijão com arroz, então tomava o café.

4 de março de 2009


Aconchegante de uma forma doente mas não doentiamente aconchegante. Pintura de quarto é meta linguagem. Radiografia da continuidade habitual, naquele instante parada, sufocada, pois o tempo-ritmo se perdeu. Houve um rombo entre o lençol e a coberta que se demonstrou um caminho para o infinito de memórias tediosas.
Os nossos pais debruçados sobre nós, e nós de olhos fechados, sentindo o peso dos olhares.
O quadro no quadro retrata o segundo preciso do agora lá. O segundo preciso do agora aqui não tem nada a ver, apesar de ser o mesmo, em algum nível de consciência entre planos.
Cama bloqueando a porta é sintoma de auto repressão e acuamento perante o mundo. Insegurança. Entende, Van Gogh? Você precisa de um acompanhamento psicológico, senão psiquiátrico. Além disso, você tem esse olhar sinistro. E é ruivo.