25 de dezembro de 2015

Bacterianos nós

Pessoas ruínas entrelaçadas, partes pesadas, outros quereres. atrás disso tudo, dessa linguagem de afazeres: é o egoísmo que nos fala. Cresce o estômago de si, cresce o buraco do estômago de si. Como Ubu, suga espaços, suga almas, engole até a metafísica. Pessoas ruínas  tragam e são tragadas, fogem sem olhar pra traz, impõem as vontades de seus buracos. Não ouvem, não falam, soterraram corações, não sentem os pés, tem fome, sempre fome, tem cabresto, tem afeto ao contrário. tem muito sono, sem sonhos, acordam cansadas, precisam se livrar de si em miniaturas, em gozadas, na exaustão da fala, no projeto invasivo, no ser invasivo que é, que sempre foi, que será até que morra, e vai morrer pelo estomago, comer-se, devora-se  por dentro, tornar-se si mesmo tantas vezes, e a cada vez menor do que era, até então virar brinquedo de si, esse pequeno ego cego, gritando, sozinho, com frio, tal qual um recém nascido cujo a única tarefa no mundo é multiplicar-se.
Bacterianos nós.
Deu-me canseira, cansaço, mormaço interno, tipo enjoo, sabe como é
Como um verão carioca dentro da barriga - fede,  derrete, entra pelo bueiro, é comido por asquerosas baratas, e fim. O verão acaba assim. Antes da acabar, por não suporta-se mais. No ultimo mês, antes do outono, já não existe mundo. Vagamos pela gravidade zero da espera. Já não queremos mais nada. O numero do ano nunca importou, tempo é cíclico. Eu chegando as trinta e minhas mãos infantis querendo dar-se a outras, enrugadas, caminhos profundos,para seguir caminho.


28 de setembro de 2015

macondo 1



O rio de janeiro queima debaixo do sol de marte.  Enfurnada no corpo a alma escapa, no suor, e toma o longo e lindo espaço vasto do verão.Onde moram tardes sexuais nos lagos envolvidos nas areias finas.Meu mapa não revela a localização do desejo , sem coordenadas, me estiro na sombra para mais um cochilo. Sonho México e Frida Caloh. Tucanos e mosquitos. Verde musgo, lesma e ervas daninhas, o leito de um rio com jacarés, o medo do escuro morno. Tudo isso de uma só vez. Ampola noite de verão, que se antecipa. Arrasta todas as dores – os sentimentos evaporados negam palavra de ordem. Cinética poesia do caos. Escorro saliva no pescoço, dos beijos lascivos, as peles grudando lençóis, as estrelas contra céu da tarde, ave Maria nos sinos desta velha cidade nova. Há em todo canto um pedaço de ontem, do ano de ontem, do século de ontem. Longas horas de historia na memória, imagens gravuradas nas paredes de dentro da carne. Hoje não há refugio, é primavera escarlate, ipê vermelho germinando um raio de metros extenso, a fertilização selvagem, naturais germinações imorais. tudo trepa. Tudo goza. Tudo sente no corpo a falta do que ainda não veio. Doçura pesada essa do tempo. Cavalgando sem sela na vida, pelo pasto insolação. Eu tinha um compromisso comigo mesma até que me esqueci que eu existia. Ninguém cobra. Sou anciã quase sem corpo. Vivo nos espaços, solta. As vezes pouso. Devo acreditar nesta santidade do não eu. Nunca tive um nome. Aqui dentro eu surfo nas ondulações milimétricas de tudo o que há. Não quero perder nem mais um segundo tentando falar disso com você. 

17 de setembro de 2015

sangrar



Não fazer sentido nenhum custa um preço alto nessa vida
Mas tentar fazer deve custar ainda mais
Meu cavalo é o desejo natural
Meu estado é o pré-formal
Cor de tempo
Golpe de Minas
Sonho correndo com os pés na lama
Viver da superfície – profunda rotina
Dia rítmico no caminhar segredo
Dentro do peito fui ao Japão
Voltei para trazer o pão
Boa tarde de café, graças a deus
Estamos em casa, estamos em casa, no sofá
Aqui dentro
Posso me perder nas linhas que contornam as formas e suas mentiras risonhas
Como fatiar um holograma
Aqui dentro da cabana suspensa posso
Da cabana suspensa no tempo
Gaiolas abertas: a garganta e os dedos derramam desejos
Não me arrependo
Só quando penso

30 de agosto de 2015

Colônia Ilusão

Cai um pingo d´água
Acordo
Reabilito minhas juntas - onde estava?
Ah, desculpe, é que eu perdi o que estava fazendo.
 O que vinha agora?
Um..... nada
não vem.
Como estou? Quem é você?
Eu estava....
Cai um pingo d´água.

Céu se abrindo aqui em cima - olha lá o lindo dia. 
Muito mais do que eu supunha.
Verdade, eu estava viva!

A ilusão, o desatino, são ingratos com suas sementes.
Mães eternamente a olhar o horizonte
enquanto suas crias choram em seus braços
Lindas mães, com lindos olhos
tão distantes
tão rasos

A ilusão nunca toca!
 A ilusão nunca vem!
Especulação de vida
Caixa Vazia
Desvio do trem

Ela lhe mostra a mão:
destinos cruzados! (você até fica feliz)
Enquanto a outra está a trabalhar
em segredo
para o Presente roubar

 Mãos sujas tem a Ilusão
 Acumuladora de agoras
vai construir um império
deserto!
floresta outrora
povoada de corujas e lesmas
Hoje e adiante: o portão nunca aberto

A ilusão-colônia
se espalhou na minha corrente sanguínea
Criou cidades por todos os vales do meu corpo
Abriu padarias
 Jornaleiro
Tabacaria

Abriu um banco e agora administra esse hospedeiro de sonhos vis
que me tornei, que nunca quis
que de mofar está por um tris

Se não abrir
se não chorar
se nao correr
se nao de fato amar
Vou morrer dela

Do que seria,
Do que será
Do que queria
Morrer sem ar

O corpo sempre busca retomar
ele quis descer aqui, voltar
Mas a dança, amigo, a dança da ilusão não se pode negar
sob a pena de sermos alguém que não dança!
E o que isso pode aparentar?

A dança do desatino é carrasca, é cigana:
 te toma!
Enquanto se dança é bom
- como um vicio fácil
uma doença cautelar pra passar o dia no sofá

mas não se engane
é emboscada armada:
 O muito acordado
caminha, de fato
e Deus sabe onde ele pode chegar 

Vale Alpino

Fugacidade de piscina
domingo no sol
o pai de sunga

Kaiser: no copo
Chinelo: Raider
De noite jogar videogame
 Medo do Chuck
 comendo fofura
 bebida: Toddy

banana com farinha láctea
Vendo Xuxa

Sonhando com a festa na floresta:
animais lentos
 mulheres nuas sentadas sobre musgo
noite de lua

Noite de Coruja
Noite de dormir no sofá e acordar na cama
Acordar com o frescobol
atirar boomerang
tomar: tangi

Chamou Marrona a cadela
passeou com Trocate
que planta brócul
desconfia do calípi
curte uma cachaça
na Universal ou na roça

Boganville no quintal
Pele de cobra coral
tarde com Chaves
dentro da coca-cola rola o dado
Sombra de ET sobre o telhado

Fugaz como há um segundo atrás

19 de agosto de 2015

And than

Energia oscilante
o pulmão cheio de fumaça
o sangue cheio de cachaça
isso aqui amigo, é tudo carcaça
e já tá apodrecendo

sente o cheiro, espanta a mosca
e a gente borrifando água de lavanda
passando o tempo, fingindo esquecimento
será que dá mais?
Dá pra ficar no aposento condenado?
 E o coração, coitado, calado?
Sabendo de tudo, obrigado a ficar mudo
porque o medo obriga
o medo abriga
o medo é surdo

Vamo tocá o tambor pra abrir caminho
um novo ninho com menos conforto morto

vai ter que caminhar
vai ter que respirar
vai ter que sustentar a dúvida

melhor que morrer em dívida
com a possibilidade da lápide
de um novo dia raiar e o amor enfim
sobre nossas cabeças desabar
constante, suave e excitante

3 de agosto de 2015

nome

O automóvel deslizando sobre asfalto liso numa noite fresca fria sob lua cheia, estrelas, enormes arvores. Uma vagina escondida entre duas coxas, no assento do meio do banco de trás.  Sete cabeças, com mais ou menos cabelo, organizadas destribuindo o espaço dentro desta caixa em movimento. Partícula sexual em transito. Fluxos de cores neon sendo respirados e expirados através da vagina, escondida. Fingia nao existir. Era como um filhote de carneiro sob folhas de bananeira. Os lobos fingem que ele que não está ali. E ainda assim, ele é tudo o que há. Cada célula atenta para ela. Farejam no ar sua exata localização. As coxas fechadas como que querendo fazer desaparecer  o orifício. Não é nada como afeto ou devoção que acontece, muito mais baixo que isso, densamente se deseja, não tem nem nome. A vagina é o canal do desejo e não o desejo em si. Não é nada com ela, que só guarda a passagem para um instante de realizações galácticas, que purifiquem o corpo de tamanha boçalidade, tamanha cotidianidade, tamanha animalidade, tamanha falta de sentido.

Os falos são perigosos pois não sabem que buscam, e buscam sempre o que não sabem. E a partir disso, dessa matemática, o que eles tem ao alcance se transforma, por mais complexo que possa ter sido, por mais sutil, transforma-se em matéria sem nome.
Apenas o nome pode salvar uma vagina no mundo dos baixos quereres.