7 de março de 2016
Daqui: boca vermelha de coração
Minha boceta de grinalda
boceta noiva
espinha dorsal de mucosa
respira no peito
planta boceta carnívora
catástrofe de engolimento
estopim
boceta de marfim
minha boceta noivinha sozinha
e o resto da mulher loba amordaçada
por mim
18 de fevereiro de 2016
12 VERÕES ATRÁS
Por enquanto está
bem assim – disse, constatando latitude, longitude e presença do
próprio corpo. Aqui está bem, não esta frio nem quente, nem
barulhente nem morbidamente silencioso, nem melancolico nem euforico,
nem fome nem enjoo. Olhou para o céu de azul infinito. Lembrou
albatroz sobre o mar que estava ali em algum lugar (graças a deus).
Pensou verão de uns 12 anos atrás, do cheiro da casa do amigo,
Raoni, que sempre a deixava triste, da piscina do amigo que sempre a
deixava triste, e da incapacidade do peito do amigo que, apesar de
bem grande, não podia acolher toda aquela tristeza. A casa sobre a
colina, alto lebron, os móveis e quadros de revista, todos os
comodos vazios exceto pelo dele, onde ela estava. Agora está bem
melhor que 12 verões atrás. A jovialidade sempre trouxe uma
proximidade bem perigosa com a morte. Agora, menos jovem. Agora,
menos morte. Agora, menos triste. Nessas horas a gente vê, como
diria já a grande Inês: o sangue de jesus tem poder, está amarrado
em nome de jesus, graças a deus deus existe. Amém.
Como foi que
sobrevivi ao chão? Como foi que sobrevivi ao meio fio? Às baratas
de botafogo? Ao conhaque em garrafaa plastica? Aos beatniks
tagarelantes nas mesas de cabeceira, dentro das mochilas, debaixo dos
braços nas praias a noite, nos onibus de viagem, nos escoderijos da
cidade? Lembrou a amiga, sempre ela, que apesar de por vezes raivosa,
indigesta, estivera ali sempre, segurando sua testa para tantos
vomitos convulsos. O sangue da amiga tem poder. Como naquele dia que
ambas bâbadas se esconderam em um caminhão com placa de são paulo.
Iriam para são paulo naquela noite, foram para são paulo por alguns
segundos. Pensaram são paulo. Pensaram sempre que não dava mais
para ficar. Durante tantos anos, a cada instante: não dava mais.
Seria o ultimo. O atropelamento à espreita, o remedio à espreita,
os cortes no banheiro, o impeto do fim. Estavamos mal, como
estavamos. Estavamos já no limite. Sobrevivi ao limite. Sobrevivi ao
que já não dava mais. Àquela doença não sei, de alma. À
tristeza da casa do amigo, à fuga cotidiana, ao sol inimigo que
sismava em acabar com todas as noites sem fim.
Éramos uma legião
nessa dor da juventude. Alguns mais assentados, outros mais
sangrentos, uns mais misterisos, outros mais arranhados. Foi uns nos
outros, caindo uns sobre os outros e sustentando uns aos outros, que
pudermos sobreviver ao chão. Éramos órfãos, devo dizer. Onde
estavam nossos pais?- é o que eu sempre penso quando penso em 12
verões atrás.
16 de fevereiro de 2016
nova ordem ortográfica
Nós tínhamos 33 chances de dar certo, com acentos, crases e tudo o mais. todos esses obstáculos da língua. Alfabetizados, ambos, em português. Língua materna, de bico de peito mesmo, na amamentação e no sexo. Dissemos A e B mas não cruzamos para além do alfabeto. Tem língua que a gente só entende no beijo. Deixando a saliva ir e recebendo a outra, de nação bacteriana estranha. Crendo em não contaminação,em não adoecimento. Crendo na relação biológica da simbiose dos afetos. Assim se dá a melhor mistura de cores, as vezes morrem uns, as vezes outros. sempre há morte envolvida na vida. O importante é que sigam, em contato, mais cores e estranhas formas. Seguir reinventando o fundo dos oceanos, os troncos das árvores, as comidas que comemos; Vegetais e fungos, sementes e ervas. Comida de passarinho porque permite voar, apensar de não nos criar dentes.
Afina-te mais com o pássaro ou o leão? Qual tua classe? Teu reino? Teu papel evolutivo? Dentro dos olhos: coruja ou caramujo? Quando bêbado: macaco ou serpente? Debaixo da cama: medo ou desejo? Dentro do coração: circo ou trovão?
Afina-te mais com o pássaro ou o leão? Qual tua classe? Teu reino? Teu papel evolutivo? Dentro dos olhos: coruja ou caramujo? Quando bêbado: macaco ou serpente? Debaixo da cama: medo ou desejo? Dentro do coração: circo ou trovão?
25 de dezembro de 2015
Bacterianos nós
Pessoas ruínas entrelaçadas, partes pesadas, outros quereres. atrás disso tudo, dessa linguagem de afazeres: é o egoísmo que nos fala. Cresce o estômago de si, cresce o buraco do estômago de si. Como Ubu, suga espaços, suga almas, engole até a metafísica. Pessoas ruínas tragam e são tragadas, fogem sem olhar pra traz, impõem as vontades de seus buracos. Não ouvem, não falam, soterraram corações, não sentem os pés, tem fome, sempre fome, tem cabresto, tem afeto ao contrário. tem muito sono, sem sonhos, acordam cansadas, precisam se livrar de si em miniaturas, em gozadas, na exaustão da fala, no projeto invasivo, no ser invasivo que é, que sempre foi, que será até que morra, e vai morrer pelo estomago, comer-se, devora-se por dentro, tornar-se si mesmo tantas vezes, e a cada vez menor do que era, até então virar brinquedo de si, esse pequeno ego cego, gritando, sozinho, com frio, tal qual um recém nascido cujo a única tarefa no mundo é multiplicar-se.
Bacterianos nós.
Deu-me canseira, cansaço, mormaço interno, tipo enjoo, sabe como é
Como um verão carioca dentro da barriga - fede, derrete, entra pelo bueiro, é comido por asquerosas baratas, e fim. O verão acaba assim. Antes da acabar, por não suporta-se mais. No ultimo mês, antes do outono, já não existe mundo. Vagamos pela gravidade zero da espera. Já não queremos mais nada. O numero do ano nunca importou, tempo é cíclico. Eu chegando as trinta e minhas mãos infantis querendo dar-se a outras, enrugadas, caminhos profundos,para seguir caminho.
Bacterianos nós.
Deu-me canseira, cansaço, mormaço interno, tipo enjoo, sabe como é
Como um verão carioca dentro da barriga - fede, derrete, entra pelo bueiro, é comido por asquerosas baratas, e fim. O verão acaba assim. Antes da acabar, por não suporta-se mais. No ultimo mês, antes do outono, já não existe mundo. Vagamos pela gravidade zero da espera. Já não queremos mais nada. O numero do ano nunca importou, tempo é cíclico. Eu chegando as trinta e minhas mãos infantis querendo dar-se a outras, enrugadas, caminhos profundos,para seguir caminho.
28 de setembro de 2015
macondo 1
O rio de janeiro queima debaixo do sol de marte. Enfurnada no corpo a alma escapa, no suor, e
toma o longo e lindo espaço vasto do verão.Onde moram tardes sexuais nos lagos
envolvidos nas areias finas.Meu mapa não revela a localização do desejo , sem
coordenadas, me estiro na sombra para mais um cochilo. Sonho México e Frida
Caloh. Tucanos e mosquitos. Verde musgo, lesma e ervas daninhas, o leito de um
rio com jacarés, o medo do escuro morno. Tudo isso de uma só vez. Ampola noite
de verão, que se antecipa. Arrasta todas as dores – os sentimentos evaporados
negam palavra de ordem. Cinética poesia do caos. Escorro saliva no pescoço, dos
beijos lascivos, as peles grudando lençóis, as estrelas contra céu da tarde,
ave Maria nos sinos desta velha cidade nova. Há em todo canto um pedaço de
ontem, do ano de ontem, do século de ontem. Longas horas de historia na
memória, imagens gravuradas nas paredes de dentro da carne. Hoje não há
refugio, é primavera escarlate, ipê vermelho germinando um raio de metros
extenso, a fertilização selvagem, naturais germinações imorais. tudo trepa.
Tudo goza. Tudo sente no corpo a falta do que ainda não veio. Doçura pesada
essa do tempo. Cavalgando sem sela na vida, pelo pasto insolação. Eu tinha um
compromisso comigo mesma até que me esqueci que eu existia. Ninguém cobra. Sou
anciã quase sem corpo. Vivo nos espaços, solta. As vezes pouso. Devo acreditar
nesta santidade do não eu. Nunca tive um nome. Aqui dentro eu surfo nas
ondulações milimétricas de tudo o que há. Não quero perder nem mais um segundo
tentando falar disso com você.
17 de setembro de 2015
sangrar
Não fazer sentido nenhum custa um preço alto nessa vida
Mas tentar fazer deve custar ainda mais
Meu cavalo é o desejo natural
Meu estado é o pré-formal
Cor de tempo
Golpe de Minas
Sonho correndo com os pés na lama
Viver da superfície – profunda rotina
Dia rítmico no caminhar segredo
Dentro do peito fui ao Japão
Voltei para trazer o pão
Boa tarde de café, graças a deus
Estamos em casa, estamos em casa, no sofá
Aqui dentro
Posso me perder nas linhas que contornam as formas e suas
mentiras risonhas
Como fatiar um holograma
Aqui dentro da cabana suspensa posso
Da cabana suspensa no tempo
Gaiolas abertas: a garganta e os dedos derramam desejos
Não me arrependo
Só quando penso
30 de agosto de 2015
Colônia Ilusão
Cai um pingo d´água
Acordo
Reabilito minhas juntas - onde estava?
Ah, desculpe, é que eu perdi o que estava fazendo.
O que vinha agora?
Um..... nada
não vem.
Como estou? Quem é você?
Eu estava....
Cai um pingo d´água.
Céu se abrindo aqui em cima - olha lá o lindo dia.
Muito mais do que eu supunha.
Verdade, eu estava viva!
A ilusão, o desatino, são ingratos com suas sementes.
Mães eternamente a olhar o horizonte
enquanto suas crias choram em seus braços
Lindas mães, com lindos olhos
tão distantes
tão rasos
A ilusão nunca toca!
A ilusão nunca vem!
Especulação de vida
Caixa Vazia
Desvio do trem
Ela lhe mostra a mão:
destinos cruzados! (você até fica feliz)
Enquanto a outra está a trabalhar
em segredo
para o Presente roubar
Mãos sujas tem a Ilusão
Acumuladora de agoras
vai construir um império
deserto!
floresta outrora
povoada de corujas e lesmas
Hoje e adiante: o portão nunca aberto
A ilusão-colônia
se espalhou na minha corrente sanguínea
Criou cidades por todos os vales do meu corpo
Abriu padarias
Jornaleiro
Tabacaria
Abriu um banco e agora administra esse hospedeiro de sonhos vis
que me tornei, que nunca quis
que de mofar está por um tris
Se não abrir
se não chorar
se nao correr
se nao de fato amar
Vou morrer dela
Do que seria,
Do que será
Do que queria
Morrer sem ar
O corpo sempre busca retomar
ele quis descer aqui, voltar
Mas a dança, amigo, a dança da ilusão não se pode negar
sob a pena de sermos alguém que não dança!
E o que isso pode aparentar?
A dança do desatino é carrasca, é cigana:
te toma!
Enquanto se dança é bom
- como um vicio fácil
uma doença cautelar pra passar o dia no sofá
mas não se engane
é emboscada armada:
O muito acordado
caminha, de fato
e Deus sabe onde ele pode chegar
Acordo
Reabilito minhas juntas - onde estava?
Ah, desculpe, é que eu perdi o que estava fazendo.
O que vinha agora?
Um..... nada
não vem.
Como estou? Quem é você?
Eu estava....
Cai um pingo d´água.
Céu se abrindo aqui em cima - olha lá o lindo dia.
Muito mais do que eu supunha.
Verdade, eu estava viva!
A ilusão, o desatino, são ingratos com suas sementes.
Mães eternamente a olhar o horizonte
enquanto suas crias choram em seus braços
Lindas mães, com lindos olhos
tão distantes
tão rasos
A ilusão nunca toca!
A ilusão nunca vem!
Especulação de vida
Caixa Vazia
Desvio do trem
Ela lhe mostra a mão:
destinos cruzados! (você até fica feliz)
Enquanto a outra está a trabalhar
em segredo
para o Presente roubar
Mãos sujas tem a Ilusão
Acumuladora de agoras
vai construir um império
deserto!
floresta outrora
povoada de corujas e lesmas
Hoje e adiante: o portão nunca aberto
A ilusão-colônia
se espalhou na minha corrente sanguínea
Criou cidades por todos os vales do meu corpo
Abriu padarias
Jornaleiro
Tabacaria
Abriu um banco e agora administra esse hospedeiro de sonhos vis
que me tornei, que nunca quis
que de mofar está por um tris
Se não abrir
se não chorar
se nao correr
se nao de fato amar
Vou morrer dela
Do que seria,
Do que será
Do que queria
Morrer sem ar
O corpo sempre busca retomar
ele quis descer aqui, voltar
Mas a dança, amigo, a dança da ilusão não se pode negar
sob a pena de sermos alguém que não dança!
E o que isso pode aparentar?
A dança do desatino é carrasca, é cigana:
te toma!
Enquanto se dança é bom
- como um vicio fácil
uma doença cautelar pra passar o dia no sofá
mas não se engane
é emboscada armada:
O muito acordado
caminha, de fato
e Deus sabe onde ele pode chegar
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